O que esperam os partidos da visita de João Lourenço a Portugal?
Para o PS, a “cumplicidade” entre Portugal e Angola será retomada. O BE mostra “abertura” e “cautelas”. O PCP fala no “aprofundamento das relações de amizade”. A direita mostra um “grande optimismo" e uma “expectativa boa”. Todos estão à espera de João Lourenço, em Portugal.
A visita do Presidente angolano a Portugal, de 22 e 24 a Novembro, não deixa ninguém indiferente na política portuguesa. Da direita à esquerda, os partidos estão atentos e expectantes: o PS, por exemplo, considera que a visita assinala uma “retoma de cumplicidade” entre os dois países.
"Esta visita do Presidente João Lourenço, que sucede a um período de reaproximação em função do trabalho desenvolvido nos últimos meses por ambos os governos, constitui um marco histórico muito relevante nas relações entre Angola e Portugal. Assinala a retoma de uma cumplicidade que não pode deixar de existir entre dois países que partilharam a sua história e que têm uma obrigação muito grande no plano da relação euro-africana", disse o presidente do PS, Carlos César.
E acrescentou: "Da parte do meu partido, através do primeiro-ministro, António Costa, já foi assinalado que em 2021, uma vez continuando o PS no Governo e presidindo ao Conselho Europeu, marcará esse ano como sendo dedicado justamente a essa relação. Portugal e Angola podem constituir-se como pivôs nesse relacionamento e nessa cooperação estratégica que se impõe no plano global entre a Europa e África.”
Também o PCP “deseja que esta visita contribua para o aprofundamento das relações de amizade e cooperação entre os dois países, no respeito pela sua soberania e respectivos interesses, e em prol da concretização das aspirações dos dois povos".
Já o BE – que sempre foi crítico da situação política em Angola – mostra abertura, mas com “cautelas”. "Nós registamos que há mudanças e, por isso, estamos numa posição de abertura para poder reavaliar a nossa posição em relação à forma como a democracia é vivida em Angola, como os direitos e as liberdades são respeitados", admitiu o bloquista Pedro Filipe Soares, sublinhando, no entanto, que esta é ainda uma "fase muito inicial deste processo".
"Nós esperamos que as relações com Portugal sirvam não para branquear atropelos a direitos humanos, atropelos a liberdades políticas e individuais – como no passado aconteceu –, mas sim para haver uma cooperação institucional entre os dois países que ajude a trazer ao de cima o bom que há nos dois países e a assunção de todo o seu potencial numa democracia exigente, plural, participada", acrescentou.
Do lado da direita e do centro-direita, as expectativas não são menores: o PSD olha "com grande optimismo" para o futuro das relações entre Portugal e Angola e considera que a visita traduzirá a "importância estrutural" desta cooperação, que quer pautada pelos "princípios do respeito e bem comum".
"É uma visita que traduz a importância estrutural da relação entre os dois países e que surge na sequência de um processo que já teve visitas do dr. Rui Rio e do dr. António Costa a Angola", afirmou Tiago Moreira de Sá, presidente da Comissão de Relações Internacionais do PSD, salientando ainda que as relações "políticas, económicas e sentimentais" entre os dois países "são muito fortes" e são "reforçadas pela grande comunidade portuguesa em Angola e de angolanos em Portugal".
Também o CDS tem uma "expectativa boa": “Trata-se de uma visita que há muito não ocorria, que de certa forma será histórica", afirmou o líder parlamentar, Nuno Magalhães, para quem o mais importante são "as relações entre Portugal e Angola, por todos os motivos e mais algum". E enumerou: pela "enorme comunidade de portugueses que vive em Angola, pela enorme comunidade de angolanos que vive em Portugal, pelo sentimento e pelo laço de amizade que liga os dois povos, pelos laços históricos que são inabaláveis, independentemente desta ou daquela questão, deste ou daquele Governo, independentemente do momento histórico que cada um atravessa".