Homem que matou cadela grávida: “Não tive condições financeiras para a levar ao veterinário”

Sexagenário não esteve presente na sua condenação por se encontrar em parte incerta, mas o PÚBLICO falou com ele

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Não assistiu à leitura da sua sentença o homem de quase 68 anos que matou a cadela "Pantufa": apesar de estar submetido a termo de identidade e residência mudou de casa sem nada dizer às autoridades. Por isso, a notificação para comparecer em julgamento nunca lhe chegou às mãos, tendo sido dado em tribunal como estando em parte incerta. O PÚBLICO falou com Hélder Pasadinhas ao telefone e tentou saber as razões que o levaram a esventrar o animal para lhe retirar os filhos de dentro.

“Não tive condições financeiras para a levar ao veterinário”, responde o ex-pára-quedista de 67 anos, sem mostrar arrependimento. “Se o voltaria a fazer? Não, porque nunca mais voltarei a ter animais”. Além de ter sido condenado a 16 meses de cadeia, pena da qual diz que irá recorrer, o arguido foi proibido de ter animais durante os próximos cinco anos. Avança hipóteses: “Eu posso ter uma deficiência mental – há que considerar todas as coisas.”

Ao que conta, tudo teve origem no facto de "Pantufa", que mantinha presa a uma corrente e deixou engravidar, ter “sofrido uma pancada na barriga” no final da gravidez. A que se deveu a pancada, uma vez que o animal estava acorrentado, o antigo pára-quedista não consegue explicar cabalmente. Depois disso “abortou e alguns cães ficaram mortos lá dentro”. Era “um animal bonito, muito afável, muito meigo”, recorda. Para disparar uma declaração surpreendente, mas que muitos outros agressores do mesmo género já repetiram antes dele: “Eu gosto de animais”. Como explica, então, o que fez, ainda por cima a sangue frio? Ri-se: “A minha intenção foi a melhor. O animal já estava mais do que anestesiado com as dores que sentia por ter os fetos a apodrecer dentro dele”.

Para acrescentar em seu favor: “Mesmo que fosse a um veterinário, provavelmente não o recuperava”. O facto de ter tirado um curso de enfermeiro quando esteve na Guiné, na guerra colonial, dava-lhe competências para a operação, considera. De resto, já não foi a primeira vez que enveredou por este tipo de técnica: “Em 1975 ou 1976, em Évora, também cosi um cão que se tinha magoado. E ele sobreviveu. Veio a morrer mais tarde, mas foi de desgosto”. Pantufa tinha sido oferecida por uma amiga, “que não tinha condições de a ter”.

Denunciado por uma vizinha, que chegava a alimentar a cadela quando o dono não lhe dava comida, Hélder Pasadinhas estranha o aparato que se gerou à volta do seu caso: “Há tantas coisas mais importantes na vida”. E dá como exemplo os casos de negligência médica nos hospitais que nunca chegam a ser punidos.

Diz que já esteve uma vez preso preventivamente, por causa de um problema com um cheque. Um problema que ultrapassou, como acha que irá suceder desta vez. “Aquilo que não nos mata só nos reforça”, conclui.

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