"Quem suceder a Merkel na chefia da CDU não vai durar muito tempo no cargo"

O professor de política Matthias Dilling acha que apesar de este anúncio marcar o início do fim da "era Merkel", são pouco prováveis eleições antecipadas.

Foto
Angela Merkel anunciou a saída da liderança da CDU: é o início do fim da sua era, diz Matthias Dilling HANNIBAL HANSCHKE/Reuters

Angela Merkel diz que não será candidata à chefia do partido no congresso de Dezembro, mas sublinha que cumprirá o mandato de chanceler até ao final. Fica numa posição rara na história do partido, onde a norma é quem ocupa a chancelaria ocupa também a liderança da CDU (algo que ela própria sempre defendeu). Se as eleições em que Merkel já não será candidata se realizarão em 2021 como previsto depende, sobretudo, do SPD, diz por telefone ao Público Matthias Dilling, professor de política na Universidade de Oxford.

Como ver este anúncio de Merkel que deixará a posição de líder da CDU (União Democrata-Cristã) e continuará chanceler até ao fim do mandato, depois de anos a defender que os dois cargos devem ser ocupados pela mesma pessoa?

Este é claramente o início do fim da era Merkel na política interna. Em termos do que é habitual na CDU, em 39 anos de governos do partido só durante três anos e meio é que o chanceler não foi ao mesmo tempo o líder do partido. Com este discurso, ela está a deixar, passo a passo, a política nacional. Merkel deixou claro que depois de terminado o mandato não se candidatará a chanceler em 2021, não será candidata a deputada, nem procurará nenhum cargo político nacional – o que deixa aberta a porta para um cargo internacional. Mais uma vez, em linha com o que é a tradição na Alemanha.

E quanto à sucessão? Na corrida à liderança da CDU apareceram para já um crítico de Merkel (Friedrich Merz) e uma lealista (Annegret Kramp-Karrenbauer). O que vai acontecer a seguir dependerá da linha que vence?

Eu diria que quem suceder a Merkel na chefia do partido não vai continuar durante muito tempo. Líderes que estiveram muito tempo no cargo, como Konrad Adenauer e Helmut Kohl, tiveram sucessores  [Ludwig Erhard e Wolfgang Schäuble] que não conseguiram ganhar o partido e ficaram muito pouco tempo na liderança. É muito difícil fazer previsões porque está tudo ainda muito indefinido e as coisas estão a mudar rapidamente. Mas ficaria surpreendido se quem for agora eleito continuar muito tempo na liderança do partido.

Há quem fale em eleições antecipadas. Acha que esta declaração de Merkel pode precipitar uma votação?

Depende de como evolui a situação, mas de momento nenhum dos partidos do Governo tem interesse em eleições antecipadas. Todos sofreriam com isso. Mas isso pode mudar se a qualquer momento pensarem que podem evitar perdas. A grande incógnita agora é o que fará o SPD – estão muito calados e isso é suspeito. Constitucionalmente, não é preciso uma nova eleição para ter um novo chanceler – Kohl fez isso em 1982 [quando a coligação entre o SPD e o FDP ruiu e Kohl passou de líder da oposição para líder de uma nova coligação com o FDP], ocupou a chanceleria e pouco depois pediu eleições, que venceu.

Com a nova conjuntura política da Alemanha [a fragmentação que dificulta as coligações até hoje mais comuns a nível nacional] vai ser preciso encontrar novos formatos. Por isso, apesar de um governo minoritário ser muito pouco habitual sobretudo depois da República de Weimar – um governo estável é muito importante – é possível pensar nesta hipótese.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários