Agosto confirma Verão com recuo no número de turistas estrangeiros
Proveitos mantêm crescimento mas abrandamento é cada vez mais evidente.
Menos hóspedes estrangeiros e menos dormidas nos estabelecimentos hoteleiros em Portugal, acompanhado de um novo abrandamento das receitas. Este é o retrato da época alta do turismo este ano, de acordo com os dados da actividade turística de Agosto divulgados esta segunda-feira pelo INE.
Nesse mês, houve uma descida de 2% no número de hóspedes estrangeiros face ao mesmo mês de 2017, que acabou por compensada pelos portugueses (a variação homóloga acabou por ser positiva em 0,4%). Ao nível das dormidas, a queda foi 4,9%, valor que os nacionais já não conseguiriam compensar (no total registou-se uma descida de 1,9%).
No caso do Algarve, esta região contou com o contributo das férias dos nacionais para conseguir ficar em terreno positivo em termos de visitantes no mês de Agosto. No negativo ficaram Lisboa, Alentejo e Madeira (actualmente a única com uma queda acumulada desde Janeiro, com um recuo de 3,8%, depois de ter estado acompanhada pelo Algarve no mês passado).
Já no que toca ao cálculo das dormidas o cenário ficou invertido, com apenas o Norte (Porto incluído) e os Açores a crescerem face a Agosto do ano passado (2,5% e 0,1%, respectivamente).
Por parte das receitas, estas mantêm uma trajectória de subida em todas as regiões, mas há uma tendência de abrandamento: no mês em análise os proveitos totais cresceram 3,5% para 522,5 milhões, o que representa uma descida de 1,9 pontos percentuais face ao que se verificou em Julho. O ritmo de subida registado em Agosto é o mais baixo, pelo menos, desde Janeiro de 2014, sem contar com os efeitos sazonais da Páscoa. Há um ano, o crescimento tinha sido de 12,8%.
Principais mercados a recuar
Fazendo um balanço aos meses de Verão, verifica-se que o Algarve, principal destino de férias na época alta, teve um ligeiro recuo (-0,2%) em hóspedes e uma descida mais acentuada de dormidas (-7% nos não residentes). A excepção à descida de hóspedes neste período foi no Norte (com mais 2,4%), Alentejo (0,1%) e Açores (0,5%).Já em termos de dormidas o impacto da descida dos estrangeiros foi mais sentido na região Centro (-15%), Algarve (-7%) e Madeira (-5%), apenas parcialmente compensado pelo turismo dos portugueses. O recuo de dormidas de estrangeiros a nível geral foi de 5% (os nacionais, com menos peso, cresceram 3%), com apenas o Norte e Alentejo a registarem uma subida homóloga nesta rubrica.
Nestes três meses, todos os maiores destinos emissores sofreram uma queda, destacando-se o Reino Unido e a Alemanha (-9%), seguidos depois pela França (-5%) e Espanha (-3%). Só em Agosto, o Reino Unido – principal mercado para Portugal – recuou 12,3%, valor que passa para 9,4% ao olhar para os primeiros oito meses do ano.
Do lado contrário estão mercados como os Estados Unidos, Canadá e Brasil, que têm subido de forma acentuada (28% em Agosto, nos caso dos Estados Unidos), mas cujo peso é insuficiente para compensar as quebras dos grandes mercados europeus.
No caso do Reino Unido, este, conforme já noticiou o PÚBLICO, está a encolher desde Outubro do ano passado, devido a factores como a recuperação de outros destinos concorrentes (como a Turquia, Egipto e Tunísia), o impacto do “Brexit” e desvalorização da moeda britânica face ao euro, e perturbações nas ligações aéreas devido a factores como a falência da Air Monarch.
Dois destinos tradicionais dos britânicos, tanto o Algarve como a Madeira assistiram a uma descida do tráfego aéreo nos aeroportos no Verão. Se a nível geral houve uma subida de 4,2% no terceiro trimestre, impulsionada por Lisboa e Porto, os dados mais recentes da ANA (concessionária dos aeroportos) mostram que em Faro houve uma descida 3,6% em termos homólogos e que no Funchal o recuo foi de 2,6%.
Quando comentou ao PÚBLICO o recuo dos turistas estrangeiros registado em Junho, a Secretaria de Estado do Turismo sublinhou que os dados da actividade turística do INE diziam respeito “apenas a hóspedes na hotelaria" e que havia impactos negativos como a concorrência do Campeonato do Mundo de futebol na Rússia (que decorreu entre 15 de Junho e 15 de Julho) e as “más condições climatéricas que se registaram na Europa” por essa altura.
Mais recentemente, no final de Setembro, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, afirmou, depois de ter sido questionada por jornalistas sobre o recuo de turistas estrangeiros em regiões como o Algarve, que Portugal “já não tem muita margem para crescer no Verão” e que o “desafio é crescer na época baixa”.