Reacções à demissão do ministro da Defesa. "Era inevitável", mas "não é a única resposta"
CDS foi o primeiro partido a reagir. João Almeida, porta-voz do partido, disse que era "inevitável". PCP e BE falaram entretanto. PEV emitiu comunicado.
O porta-voz do CDS disse esta sexta-feira à tarde no Parlamento que a demissão de Azeredo Lopes "era inevitável", mas "peca por tardia". João Almeida lembrou que o CDS já há muito que tinha pedido a demissão do ministro da Defesa por considerar que teve uma “reacção despropositada” sobre o caso de Tancos e que “entrou em contradição com outros membros do Governo”.
O dirigente considerou "gravíssimo que a demissão se tenha arrastado por tanto tempo", causando "desprestígio às Forças Armadas". João Almeida recordou ainda que, na passada quarta-feira, a líder do CDS-PP questionou o primeiro-ministro sobre se mantinha a confiança em Azeredo Lopes e a resposta foi uma acusação de partidarização das Forças Armadas.
Considerando que a demissão representa uma valorização política da comissão de inquérito de Tancos, João Almeida sugeriu que pode ter havido "um facto novo" entre quarta-feira e esta sexta-feira que levou à demissão do ministro.
PCP: "Problema" de António Costa
Já o secretário-geral do PCP afirmou que a polémica do furto de armas de Tancos e consequente demissão do responsável pela tutela "passou a ser problema" do chefe do Governo.
"Queria aqui afirmar que não conhecemos os fundamentos que levaram à demissão do ministro. Passou a ser um problema do ministro da Defesa e, naturalmente, do primeiro-ministro, como principal responsável do Governo", disse Jerónimo de Sousa.
O líder comunista respondia a jornalistas, após uma sessão dos "Colóquios (Re)Partidos", organizados pelo Conselho Nacional de Juventude (CNJ) junto das diversas forças políticas, desta feita no centro de trabalho Vitória do PCP, em Lisboa, e imediatamente depois de se saber da saída do Governo de Azeredo Lopes.
Jerónimo de Sousa sublinhou ser "prudente aguardar para conhecer os fundamentos que levaram a tal decisão".
O também comunista António Filipe foi questionado no Parlamento sobre se esta saída foi tardia, como disse o CDS. "É uma questão para analistas", respondeu.
Sem fazer qualquer juízo de valor, o deputado do PCP registou que o ministro da Defesa e o primeiro-ministro fizeram uma avaliação e entenderam que Azeredo Lopes "já não tinha condições". " Consideramos que o apuramento da responsabilidade criminal prosseguirá e, aí, a Assembleia da República não pode intrometer-se", acrescentou.
No que diz respeito à política, António Filipe lembrou que "está criado um inquérito parlamentar" para tratar o assunto.
BE: não é a única resposta
A coordenadora do BE, Catarina Martins, considerou que a demissão do ministro da Defesa "não é a única resposta" necessária.
"Não há ninguém no país que não perceba a enorme gravidade de todo o caso do roubo de armas de Tancos e de todo o processo, até rocambolesco. Nós sempre dissemos que ele era bastante grave, o Governo parece agora retirar consequências políticas da gravidade deste caso", disse aos jornalistas Catarina Martins, de visita ao Centro de Acolhimento Temporário para Refugiados, em Lisboa.
O BE regista "a retirada de consequências políticas", mas a líder do partido fez questão de sublinhar que "há muitas perguntas sem respostas".
"E, portanto, eu julgo que uma demissão não é a única resposta de que precisamos neste caso, é preciso mesmo compreender o que se passou. Há uma investigação em curso e nós esperamos que o país possa ter as respostas que merece sobre um caso que tem toda a gravidade", defendeu.
PEV: a "extrema gravidade" do furto
Em comunicado, Os Verdes "reafirmam a ideia de que o furto do material militar foi de extrema gravidade e foi factor de sentimento de insegurança por parte da população, tendo em conta tratar-se de material perigoso guardado em paióis militares que deveriam estar bem guardados".
Sobre a demissão do ministro, Os Verdes consideram que "se Azeredo Lopes entendeu que não tinha mais condições para se manter no cargo é justificada a sua demissão", mas o Governo deve explicar a razão efectiva dessa demissão.
Comentário de Manuel Carvalho, director do PÚBLICO: "Teia de suspeição" ditou demissão