Investimento e exportações abrandam mais que o previsto em 2018
Banco de Portugal não altera previsão do crescimento do PIB, num cenário em que é o desempenho mais forte do consumo que compensa resultados menos positivos noutros indicadores.
O Banco de Portugal manteve esta quinta-feira a sua previsão de crescimento para este ano em 2,3%, mas reviu em baixa as suas estimativas para a evolução do investimento e das exportações, que devem registar, depois do desempenho muito forte de 2017, um abrandamento acentuado em 2018.
O Boletim Económico de Outubro publicado Banco de Portugal, que se dedica unicamente à análise da evolução da economia em 2018 (não apresentando novas projecções para os anos seguintes), apresenta uma estimativa de variação do PIB no total deste ano idêntica à que já antecipava em Junho e que fica também em linha com aquilo que é neste momento esperado pelo Governo: 2,3%.
No entanto, o banco central assinala que nas suas novas projecções registam-se alterações na evolução das componentes do PIB. Por um lado, diz o relatório, “o crescimento das exportações e o crescimento da formação bruta de capital fixo são revistos em baixa”. Por outro lado, compensando este efeito, “o aumento do consumo privado deverá ser superior ao antecipado em Junho”.
Há quatro meses, a entidade liderada por Carlos Costa estava à espera que o investimento abrandasse de uma variação de 9,1% em 2017 para 5,8% este ano, mas agora, com os dados que entretanto foram ficando disponíveis, traça um cenário de travagem mais forte deste indicador, para 3,9%. No primeiro semestre do ano, o crescimento do investimento foi de 4% e o Banco de Portugal espera que no segundo semestre a variação não passe dos 3,8%.
No que diz respeito às exportações, o cenário é semelhante. Um abrandamento já era estimado em Junho, mas apenas de 7,8% para 5,5%. Afinal, a previsão actualizada coloca este indicador nos 5%, com o segundo semestre a ser particularmente fraco, com um crescimento de apenas 4%. Este abrandamento mais forte das exportações é explicado pelo Banco de Portugal com a travagem que se está a registar e se deve acentuar no final do ano da procura externa dirigida à economia portuguesa. Os principais parceiros comerciais de Portugal estão a importar menos do que o previsto e isso faz com que a economia portuguesa, ainda que continuando a registar ligeiros ganhos de quota de mercado, não consiga exportar tanto.
A compensar estes resultados menos positivos do investimento e das exportações estará o consumo privado que, em vez de abrandar de 2,3% em 2017 para 2,2% em 2018, como era previsto em Junho, vai acelerar ligeiramente para 2,4%.
E, em simultâneo, não se assiste a uma aceleração das importações. Pelo contrário, o crescimento das importações também é revisto em baixa, de 5,7% para 5,1%, o que permite que o contributo da procura externa líquida (exportações menos importações) para o crescimento do PIB apenas se reduza ligeiramente face ao que era previsto.
O Banco de Portugal não faz, neste documento, quaisquer novas previsões para os próximos anos. Em Junho tinha apontado para um crescimento de 1,9% em 2019, um valor que fica abaixo dos 2,3% projectados pelo Governo no Programa de Estabilidade e dos 2,2% que deverão ser usados no cenário macroeconómico da proposta de Orçamento do Estado para 2019 que o Executivo apresenta na próxima segunda-feira.
No entanto, este abrandamento mais forte das exportações e das importações dá poucos sinais positivos relativamente à evolução futura da economia portuguesa, já que estas são as componentes do PIB geralmente apresentadas como as que podem garantir um padrão de crescimento económico mais sustentável num cenário de endividamento muito elevado das famílias, empresas e Estado.