Quem venceu e quem perdeu nas eleições brasileiras
A jornada eleitoral no Brasil foi pródiga em surpresas e decepções. Há partidos que surgem como novas forças no panorama político e outros que se apagam. Há carreiras prometedoras e fins de ciclo.
Vencedores
Família Bolsonaro
Apesar de criticar os vícios dos políticos estabelecidos, entre os quais a constituição de clãs políticos que transformam estados inteiros em feudos eleitorais, Jair Bolsonaro não tem pejo em projectar familiares para cargos eleitos – e com sucesso. O filho mais velho do ex-capitão, Flávio Bolsonaro conseguiu facilmente um lugar no Senado pelo Rio de Janeiro, alcançando mais de quatro milhões de votos. Mas o grande feito ficou reservado a Eduardo Bolsonaro que com 1,8 milhões se tornou no deputado federal eleito com maior número de votos de sempre. Menos sorte teve a ex-mulher do candidato presidencial, Cristina Bolsonaro, que não conseguiu ser eleita deputada federal pelo Rio de Janeiro.
Wilson Witzel
É do Rio de Janeiro, estado assolado por anos de crise económica e de insegurança, que veio uma das grandes surpresas da noite eleitoral. O ex-juiz federal Wilson Witzel passou de candidato desconhecido a vencedor da primeira volta nas eleições para governador, catapultado pelo apoio da família Bolsonaro. À entrada para a campanha, Witzel era aquilo que poderia ser descrito como “nanico” – as sondagens davam-lhe um dígito das intenções de voto e sem uma máquina partidária forte poucos lhe atribuíam hipóteses. Mas um programa duro para enfrentar os problemas de crime na capital turística do país associado ao apoio do clã Bolsonaro permitiram-lhe obter mais de três milhões de votos, deixando para trás por exemplo o antigo futebolista Romário. Vai disputar a segunda volta com o ex-prefeito Eduardo Paes.
João Doria
O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) tem pouquíssimas razões para sorrir, mas a perspectiva de João Doria conquistar o governo do estado de São Paulo é uma delas. O empresário surgiu na política paulistana como um furacão, vencendo as eleições para a Câmara Municipal em 2016 logo à primeira volta contra Fernando Haddad. A sua popularidade e o estilo truculento levaram a imprensa a tecer comparações com Bolsonaro e até a especular se seria ele o candidato “tucano” às eleições presidenciais. Doria preferiu o governo do estado e está próximo de o garantir, depois de ter vencido confortavelmente na primeira volta. A inevitável revolução interna no PSDB deverá levá-lo a voos ainda mais altos.
Gustavo Bebianno
Quando se escrever a história do Partido Social Liberal (PSL) a cronologia terá de ser forçosamente dividida entre duas eras: antes e depois de Bolsonaro. Em 2014, o partido não tinha uma bancada parlamentar, mas sim um assento para o seu único deputado eleito. No domingo, elegeu mais 51, tornando-se no segundo grupo partidário, apenas superado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O presidente do partido, Gustavo Bebianno, cedeu a “sigla” a Bolsonaro, de quem é um dos principais confidentes, e está agora a colher os frutos. Aconteça o que acontecer a Bolsonaro no dia 28, o PSL assume-se como o grande pilar de oposição ao PT, substituindo o histórico PSDB.
Vencidos
Lula da Silva
A candidatura de Fernando Haddad ancorou-se desde o início na popularidade incontornável do ex-Presidente Lula. "Haddad é Lula, Lula é Haddad" foi repetido como um mantra pelos apoiantes da candidatura do PT nas últimas semanas, com o objectivo claro de que Haddad viesse a ser favorecido por uma transferência de votos – um pouco à semelhança do que já tinha acontecido com Dilma Rousseff. A estratégia era arriscada e a sua concretização tem resultados mistos. Se é verdade que Haddad protagonizou um crescimento acelerado nas intenções de voto, culminando com os mais de 30 milhões de votos obtidos, que dificilmente conseguiria sem o respaldo de Lula, também é verdade que fazer coincidir uma candidatura à presidência com a defesa de um líder acusado, julgado e detido por corrupção é insuficiente para atrair um eleitorado minimamente crítico. E serão esses os votos cruciais para que Haddad chegue ao Palácio do Planalto depois da segunda volta.
Marina Silva
Há quatro anos, Marina Silva foi a grande surpresa da corrida presidencial, disputando taco-a-taco com Aécio Neves um lugar na segunda volta. A ecologista voltou a apresentar-se como candidata, agora pela Rede Sustentabilidade, mas o desfecho não poderia ter sido mais diferente. O seu programa centrista foi devorado pela polarização extrema protagonizada por Bolsonaro e pelo PT e Marina ficou reduzida uns míseros 1%, atrás de candidaturas caricaturais como a do Cabo Daciolo.
Dilma Rousseff
Discretamente, a ex-Presidente foi fazendo campanha para o Senado em Minas Gerais, o seu estado natal e bastião político. As sondagens davam como praticamente certa a sua eleição para uma das duas vagas, mas o resultado foi uma rotunda decepção. Não só Dilma ficou de fora do Senado como foi derrotada por dois candidatos conservadores, incluindo Carlos Viana, um ex-apresentador de televisão sem experiência política, que se tornou conhecido em programas que exploravam a criminalidade urbana.
Geraldo Alckmin
Se esta fosse uma época de normalidade no Brasil, à partida o ex-governador de São Paulo seria um óbvio favorito nas presidenciais. Para além de ser o candidato com mais experiência política, Alckmin conseguiu reunir uma ampla coligação que lhe garantia recursos milionários e preciosos minutos de tempo de antena na rádio e na televisão. Mas estes não são tempos normais. O que outrora seriam trunfos tornaram-se debilidades. Nem todo o tempo do mundo de propaganda eleitoral conseguiu apagar a sensação de que Alckmin era um representante da classe política desacreditada pelos escândalos de corrupção. Com menos de 5% dos votos, Alckmin protagonizou a pior prestação de sempre dos "tucanos" em eleições presidenciais. O colapso da sua candidatura foi também uma janela para o apagamento do PSDB a nível nacional, que de grande esteio do centro-direita passou a ser apenas mais um entre muitos.