Pelo terceiro ano consecutivo, há mais gente com fome no mundo

As alterações climáticas, conflitos e as crises económicas põem em causa a saúde e a subsistência de milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em África e na América do Sul.

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Criança num campo de refugiados somali no Quénia Baz Ratner/REUTERS

Há cerca de 821 milhões de pessoas no mundo a passar fome, a maior parte das quais em África e na América do Sul. Pelo terceiro ano consecutivo, aumentou o número de pessoas com fome no mundo, segundo o último relatório sobre a Segurança Alimentar e Nutrição das Nações Unidas, divulgado esta terça-feira e relativo a 2017.

“A variabilidade do clima, que afecta os padrões da chuva e as estações, bem como extremos climáticos como secas e inundações, estão entre as principais causas do aumento da fome, além dos conflitos e abrandamentos económicos”, considera Cindy Holleman, editora do relatório da agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), que divulgou o relatório.

Em números totais, uma em cada nove pessoas passa fome, com 515 milhões na Ásia, 256,5 milhões em África e 39 milhões na América Latina e Caraíbas.

Apesar de a erradicação da fome ser um dos Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas a atingir até 2030, “há sinais alarmantes do aumento da insegurança alimentar e diversas formas de má alimentação”, desde a obesidade nos adultos aos atrasos de crescimento nas crianças.

Cerca de 672 milhões de adultos, ou 13% do total, são obesos e 38,3 milhões de crianças com menos de cinco anos também. A obesidade é mais sentida na América do Norte, mas também está a aumentar na África e na Ásia, onde coexiste com a subnutrição. Nestas regiões, a comida nutritiva é mais cara, um dos factores que contribui para a obesidade.

Em contraste, mais de 200 milhões de crianças (29,7%) têm peso ou altura a menos para a idade. Ambas são áreas em que a falta de progresso é clara, afirma a FAO.
Além disso, é “vergonhoso” que um terço das mulheres em idade reprodutiva esteja anémica, o que se reflecte nelas próprias e nas crianças.

Há “sinais alarmantes do aumento da insegurança alimentar e de níveis elevados de diferentes formas de problemas alimentares”, que são “um claro aviso de que há muito trabalho a fazer para ninguém ficar para trás”, defendem numa posição conjunta os responsáveis da ONU para a alimentação, agricultura, crianças e saúde.

Portugal está em linha com os países europeus, mantendo uma taxa inferior a 2,5 por cento da população com sinais de subnutrição desde 2004/2006. A obesidade, no entanto, aumentou entre os adultos, de 21% em 2012 para 23,2% em 2016.

O impacto das alterações climáticas na produção de alimentos essenciais como o trigo, arroz e milho nas regiões tropicais e temperadas aumentará se as temperaturas continuarem a subir, alerta a FAO.

O apelo da FAO é para que aumentem os esforços para garantir o acesso a alimentos nutritivos, prestando especial atenção às partes da população mais vulneráveis: bebés, crianças com menos de cinco anos, em idade escolar, raparigas adolescentes e mulheres.