Protesto contra o novo nome da Macedónia acaba em confrontos na Grécia
Manifestantes nacionalistas consideram que, com a nova designação do país, os macedónios poderão reivindicar o território do Norte da Grécia com o mesmo nome.
A polícia grega lançou gás lacrimogéneo para dispersar milhares de pessoas reunidas na cidade de Salónica em protesto contra o acordo entre os governos da Grécia e da Macedónia sobre nome da antiga república jugoslava. No dia 30 de Setembro os macedónios vão referendar o novo nome oficial do seu país: República do Norte da Macedónia.
Os manifestantes aproveitaram a ida do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, a Salónica (onde fez um discurso sobre o futuro do país pós-programas de ajustamento da troika) para voltarem a mostrar o seu desagrado com o facto de Atenas ter concordado com um nome que inclui a palavra Macedónia. Muitos nacionalistas, incluindo membros de partidos e grupos de extrema-direita, nunca aceitaram essa designação por causa da região grega com o mesmo nome (precisamente onde fica a cidade de Salónica, a segunda maior do país), uma zona com grande importância histórica por ter sido dali que partiu Alexandre, o Grande, para construir o seu império no século IV a.C..
Além de ter dificuldades em dispersar a multidão, a polícia antimotim perseguiu os que tentavam passar as barreiras montadas em redor do local onde Tsipras iria discursar. Entre os manifestantes havia muitos jovens de cara tapada que lançaram pedras contra os agentes.
O acordo assinado entre Tsipras e o chefe do Governo macedónio, Zoran Zaev, a meio de Junho, pôs fim a 27 anos de negociações e protestos. Saudado como histórico na Europa, é muito polémico nos dois países. Tsipras já sobreviveu entretanto a uma moção de censura no Parlamento por causa do acordo que levanta o veto grego à adesão da Macedónia à União Europeia e à NATO. Os opositores consideram que, com a nova designação, os macedónios poderão reivindicar o território do Norte da Grécia com o mesmo nome.
Os macedónios vão votar em referendo no final do mês – depois disso, os dois governos ainda terão de vencer as oposições parlamentares. Zaev precisa de uma maioria de dois terços, um objectivo especialmente difícil de alcançar se os eleitores rejeitarem a mudança. De acordo com as últimas sondagens, citadas pela Reuters, mais de 50% dos macedónios tencionam votar e a maioria aprova a mudança de nome.
Segundo o acordado, o país que até agora a ONU reconhecia como Ex-República Jugoslava da Macedónia passará a chamar-se República do Norte da Macedónia – os mais radicais do lado grego opunham-se a qualquer referência a Macedónia; os principais críticos entre os macedónios defendem que qualquer nome para além de Macedónia é uma cedência humilhante.
O futuro
O grande impulso para o acordo veio do Governo de Zaev, eleito em 2017. Logo em Junho, a NATO convidou a Macedónia para iniciar conversações de adesão, o que só pode acontecer depois de alterada a Constituição do país e adoptado o novo nome. A UE também anunciou que vai determinar uma data para iniciar negociações com o país.
Sábado, a chanceler alemã, Angela Merkel, esteve em Skopje para pedir aos macedónios que aprovem o acordo e avancem no sentido de aderirem às duas organizações. “Sem uma solução para o nome, as outras duas coisas não podem acontecer”, afirmou aos jornalistas depois de um encontro com Zaev. “Com um resultado positivo do referendo, o futuro pode significar que serão tanto membros da NATO como que pertencerão à família de estados da UE”, disse.
Zaev agradeceu o apoio e descreveu a visita como “uma forte mensagem de encorajamento” em antecipação da consulta onde os macedónios “vão decidir o seu futuro”.
A visita de Merkel aconteceu exactamente 27 anos depois da declaração de independência por parte da Macedónia, a única ex-república que se separou pacificamente da Jugoslávia, a 8 de Agosto de 1991.