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Arcebispo de Dublin diz que "não basta pedir desculpa" pelos abusos sexuais na Igreja

A poucos dias da chegada do Papa Francisco à Irlanda, crescem as críticas e os apelos no país para que o Vaticano seja mais determinado na sua resposta aos vários escândalos de abusos sexuais de crianças e jovens.

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O Vaticano está a ser pressionado a ter uma atitude mais determinada LUSA/CIRO FUSCO

Quando o Papa Francisco chegar à Irlanda para uma visita oficial de dois dias, no próximo fim-de-semana, não deverá ter à sua espera gigantescos protestos contra o escândalo de abusos sexuais na Igreja Católica da Pensilvânia, revelado na semana passada. Mas as críticas e os alertas de algumas personalidades políticas e religiosas, como a de uma ex-Presidente e o arcebispo de Dublin, indicam que o ambiente não será tão favorável como o da visita do Papa João Paulo II, há 39 anos.

Este sábado, o responsável pela arquidiocese da capital irlandesa, Diarmuid Martin, comentou a forma como o Vaticano tem reagido publicamente aos sucessivos escândalos de abusos sexuais na Igreja Católica. E a frase em destaque foi tão curta como forte: "Não basta pedir desculpa."

Sobre o que espera ouvir do Papa Francisco, nos dias 25 e 26, o arcebispo de Dublin preferiu fazer uma referência ao contexto em que essa visita vai acontecer: "É uma visita curta mas intensa, com muitas expectativas, felicidade e entusiasmo, mas também marcada por muita ansiedade sobre a nossa Igreja Católica, na Irlanda e em todo o mundo, e sobre o futuro da Igreja", disse o arcebispo, citado pelo Irish Times.

Diarmuid Martin não se referiu ao caso concreto dos abusos sexuais na Pensilvânia, onde uma investigação de um grande júri, revelada na passada terça-feira, descobriu um padrão de abusos em seis das oito dioceses do estado norte-americano ao longo de décadas – foram identificados mais de 300 "padres predadores", como lhes chamou o procurador-geral da Pensilvânia, e mais de mil vítimas entre a década de 1940 e o início dos anos 2000.

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"Pedir desculpa não é suficiente", disse o arcebispo de Dublin Diarmuid Martin Cathal McNaughton/REUTERS

O arcebispo de Dublin deixou um aviso à forma como o caso tem sido tratado pelo Vaticano: "Precisamos de uma Igreja com confiança, não a confiança da popularidade ou a arrogância, mas sim a confiança de homens e mulheres cativados pela mensagem de Jesus."

Desde que o escândalo na Pensilvânia foi revelado, o Vaticano pronunciou-se apenas uma vez, na quinta-feira, através do porta-voz do Papa Francisco, Greg Burke: "Os abusos descritos no relatório são censuráveis em termos criminais e morais. A Igreja tem de aprender lições duras com o seu passado, e tanto os abusadores como quem permitiu que os abusos acontecessem devem ser responsabilizados."

A ex-Presidente irlandesa Mary McAleese, uma católica praticante conhecida pelas suas opiniões progressistas sobre temas como o casamento de padres, a homossexualidade e o aborto, também comentou a visita do Papa Francisco. E as suas declarações foram mais directas e contundentes do que as do arcebispo de Dublin – McAleese disse que esperava mais do Papa e criticou o seu "modo de pensar".

Diferente, mas não muito

"Acreditei que este Papa era diferente porque ele disse que ia ser diferente. Disseram-nos que quando ele estava na Argentina costumava insistir na necessidade de se denunciar os casos de padres que cometiam crimes contra crianças", disse a ex-Presidente irlandesa, citada pelo Irish Times.

Mas os comentários que o Papa Francisco fez no Chile, no início do ano – quando disse que as queixas de que o bispo Juan Barros encobriu os abusos do padre Fernando Karadima eram "uma calúnia" –, foram uma desilusão para Mary McAleese.

"Ele escolheu acreditar num dos lados – no lado que protegeu os bispos e padres abusadores", acusou a ex-Presidente irlandesa, apontando o dedo às estruturas da Igreja Católica: "A formação do Papa Francisco como padre e como bispo tem como base uma forma de pensar que põe em primeiro lugar a defesa da instituição." Depois dessas declarações, o Papa Francisco iniciou uma limpeza profunda na Igreja Católica chilena, aceitando a demissão de vários bispos.

Esta é a segunda visita de um Papa à Irlanda, separadas por 39 anos. Em 1979, quando o Papa João Paulo II chegou ao país, ainda faltava uma década para que o escândalo de abusos sexuais em instituições da Igreja Católica irlandesa começasse a ser conhecido em toda a sua extensão.

Houve demissões na hierarquia católica, acusada num extenso relatório de "fechar obsessivamente os olhos" aos abusos de padres sobre crianças, durante décadas, pelo menos até meados dos anos 1990. O Papa Bento XVI pediu desculpa às vítimas de abusos sexuais do clero irlandês numa carta pastoral de Março de 2010, em que disse sentir "vergonha e remorso" pelos crimes na Igreja Católica.

Em 2013, o Papa Francisco introduziu no Código Canónico leis que transpuseram normas dos tratados internacionais de protecção das crianças e do combate à corrupção e ao terrorismo. As leis supunham "uma definição mais completa da categoria dos crimes praticados contra crianças e menores", disse então o Vaticano. Passaram a incluir o recrutamento e a venda de crianças, a violência e actos sexuais com crianças, a produção e posse de pornografia infantil e a prostituição de menores de idade, e agravavam as respectivas sanções.

Mas essa actualização do quadro legislativo da Igreja Católica é ainda insuficiente para enfrentar as consequências de muitos outros escândalos de abusos sexuais que vão sendo revelados. O Papa Francisco tem ainda de lidar, em nome do Vaticano, com os abalos provocados pelos casos revelados na última década e meia – na Irlanda, mas também nos Estados Unidos, na Austrália, na Nova Zelândia, no Chile e em muitos outros países em todos os continentes.

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