Confrontos entre oposição e Exército no Zimbabwe após anúncio dos resultados
Três mortos confirmados pela polícia. Partido no poder conseguiu vitória expressiva nas legislativas. Oposição, de Nelson Chamisa, questiona resultados e fala em fraude eleitoral.
A vitória da União Africana Nacional do Zimbabwe-Frente Patriótica (ZANU-PF, no poder) nas eleições legislativas, alcançando dois terços dos lugares no Parlamento, ficou marcada por violentos confrontos nas ruas da capital entre apoiantes da oposição e a polícia e o Exército, durante os quais pelo menos três pessoas morreram. Com os resultados das presidenciais ainda por divulgar, é incerto como irá reagir a oposição ao regime nos próximos dias.
Cerca de cem pessoas afectas ao Movimento para a Mudança Democrática (MDC), da oposição, concentraram-se em frente a um hotel em Harare onde foram anunciadas as actualizações dos resultados. Noutras zonas da capital, onde a oposição recolhe mais apoio, grupos de pessoas bloquearam ruas e queimaram pneus.
A polícia utilizou canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar as multidões de pessoas que atiravam pedras, mas o Exército acabou por intervir.
O Presidente interino e candidato da ZANU-PF, Emmerson Mnangagwa, pediu “paciência e maturidade” e apelou ao fim das “declarações provocatórias”. O ministro da Justiça, Ziyambi Ziyambi, justificou o recurso ao Exército como forma de “assegurar que a lei e a ordem são mantidas” e não para intimidar a população.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou preocupação pelos incidentes e pediu aos actores políticos do Zimbabwe que “sejam contidos e rejeitem todas as formas de violência”.
Zonas rurais garantem maioria
As primeiras eleições no Zimbabwe após o afastamento do líder histórico Robert Mugabe, ao fim de 37 anos no poder, parecem mostrar que a ZANU-PF vai manter a sua posição dominante. O partido garantiu uma maioria de dois terços no Parlamento, suficiente para fazer alterações constitucionais. O Zimbabwe tenta recuperar credibilidade internacional depois de anos em que os abusos cometidos pelo regime de Mugabe tornaram o país alvo de sanções e isolamento.
O triunfo da ZANU foi alicerçado em vitórias esmagadoras nas zonas rurais, tipicamente bastiões do antigo movimento de guerrilha. Os analistas também notam que o mau desempenho do MDC se ficou a dever a divisões no seio da oposição após a morte do seu antigo líder Morgan Tsvangirai, em Fevereiro.
As eleições na segunda-feira, com uma taxa de participação de 70%, decorreram de forma pacífica e, de acordo com os observadores regionais, não foram relatados indícios de irregularidades ou fraude. Porém, houve críticas quanto à cobertura das eleições por parte dos órgãos de comunicação estatais e à conduta da Comissão Eleitoral, que tem demorado na divulgação dos resultados, sublinhou a equipa de observadores da União Europeia – que não monitorizava eleições no país desde 2002.
Ainda assim, os observadores europeus concluíram que “o clima político melhorou”, alertando, contudo, para “um desequilíbrio das condições e para a falta de confiança”.
A data-limite para que os resultados das presidenciais sejam conhecidos é sábado. Apesar de as votações para o Parlamento e para o Presidente serem separadas, a maioria dos analistas considera que a tendência deverá ser semelhante. Se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos, terá de haver uma segunda volta, a 8 de Setembro.
O líder do MDC e candidato presidencial, Nelson Chamisa, disse que a divulgação dos resultados das legislativas antes das presidenciais serve os interesses da ZANU. “Tem o objectivo de preparar mentalmente o Zimbabwe para aceitar resultados presidenciais falsos”, escreveu Chamisa no Twitter. “Nós ganhámos o voto popular e iremos defendê-lo”, garantiu.
A oposição tem desferido várias críticas contra a Comissão Eleitoral, que acusa de estar a favorecer o partido no poder. Há receio de que uma eventual recusa por parte do MDC em aceitar os resultados possa levar a confrontos. Na mente de todos paira o fantasma das eleições de 2008, marcadas por vários episódios violentos contra elementos da oposição. Na altura, Mugabe assegurou a reeleição apenas à segunda volta, contra Tsvangirai.