Novo Banco vende sede na Avenida da Liberdade e muda-se para as Amoreiras
O Novo Banco vai deixar a Avenida da Liberdade para se mudar para as Amoreiras, onde será construído um mega projecto imobiliário. Uma decisão que surge precisamente quatro anos depois de o BES ter sido resolvido, para nascer o Novo Banco que é detido pelo Lone Star, especializado no negócio imobiliário.
A decisão está tomada. E está há já muito tempo. O Novo Banco vai alienar onze edifícios localizados na área da grande Lisboa para financiar a construção de um mega projecto imobiliário, com uma vertente de habitação, de comércio e zonas verdes. O local escolhido é o centro de Lisboa, num quarteirão entre as Amoreiras e a Rua Artilharia 1.
O pacote já está à venda e inclui o prédio ícone do Grupo Espírito Santo, situado na esquina da Avenida da Liberdade, com a Rua Barata Salgueiro, e onde há mais de 60 anos funciona a sede do antigo BES, agora Novo Banco - desde 2015 liderado por António Ramalho.
No plano do Lone Star, que tem 75% do Novo Banco, está a mudança da sede para o bloco de imóveis a construir nas Amoreiras, tal como o PÚBLICO já adiantara na sua edição de 8 de Junho de 2018.
Trata-se de uma propriedade com 130 mil metros quadrados que pertenceu ao Exército e que o Novo Banco assumiu em 2014, depois de executar a promotora imobiliária de Vasco Pereira Coutinho, o Fundo Temple (insolvente) que investiu com crédito do BES.
Sublinhe-se que já antes do colapso do BES, em Agosto de 2014, Ricardo Salgado negociava com Pereira Coutinho receber a propriedade das Amoreiras para liquidar dívidas. Na altura, Ricardo Salgado (acusado pelo BdP de, entre outras coisas, falsificar contas, e que o Ministério Público suspeita de ter corrompido José Sócrates ) chegou a admitir publicamente que pretendia expandir a sede para aquele local.
“O tema está em aberto e ainda em estudo, há várias hipóteses em cima da mesa”, referiu ao PÚBLICO um responsável oficial do Novo Banco. Já outra fonte garantiu que a matéria está fechada e que a operação imobiliária visa reduzir em 30% os custos por sinergias e obter ganhos anuais entre oito a 10 milhões de euros.
Certo é que o negócio está há muito tempo a ser planeado e as mais-valias que daí possam resultar terão sido uma das razões que levou o fundo de investimento do Texas, o Lone Star, a interessar-se pelo Novo Banco.
Tal como o PÚBLICO já adiantou, esta operação está a ser conduzida pela Hudson Advisors, do grupo Lone Star. O terreno das Amoreiras foi dos primeiros entregues à Hudson, para ser gerido e rentabilizado.
Foi aliás para conduzir esta operação imobiliária - que se estima em centenas de milhões de euros - que o Novo Banco foi recrutar o espanhol (de origem alemã), Volkert Schmidt. A decisão gerou desconfianças dentro do banco. É que Volkert Schmidt foi contratado ao grupo Lone Star, onde era um operacional da Hudson Advisors (sociedade detida a 100% pelo fundo norte-americano). E é o que pode explicar que mesmo antes de António Ramalho o ir recrutar, já Volkert era presença activa nos corredores do banco. Foi à Hudson Advisors que o Novo Banco pediu que assessorasse a venda da carteira de activos imobiliários e escolhesse a empresa que está a procurar um comprador no mercado internacional para os imóveis do Novo Banco. A escolha recaiu sobre a sociedade de investimento espanhola Alantra (ex-N+1), dirigida em Lisboa por Rita Barosa, a ex-assessora de Ricardo Salgado no BES.
Os onze prédios em Lisboa, onde está o actual edifício sede, mas também prédios na Andrade Corvo e no Tagus Park, integram um lote de cerca de nove mil imóveis, contabilizados no Novo Banco em torno de 670 milhões de euros.
O Novo Banco passou para a esfera do Lone Star em Novembro de 2017, pelo preço de mil milhões de euros, que serviu para aumentar o capital da instituição alvo de resolução há precisamente quatro anos.
Desde a queda do BES, o Estado já injectou no antigo BES/Novo Banco cerca de oito mil milhões. E desta verba, que é dada por perdida, 790 milhões de euros chegaram quatro meses depois de o Lone Star ter adquirido o banco. Os 790 milhões de euros são uma parcela dos 3,9 mil milhões que o Estado aceitou injectar no acordo que celebrou com o grupo do Texas. Na prática os contribuintes podem ter de assumir prejuízos com o Novo Banco até onze mil milhões.