Após seis meses de avaliação, Lone Star reconfirma António Ramalho
O fundo de investimento norte-americano esteve a avaliar a comissão executiva, que podia ter dispensado até final de Abril sem custos.
O fundo de investimento texano Lone Star já informou os membros da comissão executiva do Novo Banco, liderada por António Ramalho, que os manterá em funções, não interrompendo a meio o mandato da actual gestão nomeada pelo Fundo de Resolução em Abril de 2017.
Em causa está uma cláusula do contrato de compra do Novo Banco, que libertava os norte-americanos de pagarem indemnizações, caso dispensassem a actual gestão até final de Abril.
Nos últimos seis meses, a Comissão Executiva do Novo Banco esteve a ser avaliada pelo fundo de private equity Lone Star, que monitorizou diariamente a sua acção. O período de compasso de espera serviu para os norte-americanos decidirem se mantinham em funções a gestão, ou se, pelo contrário, a dispensavam, antes do final do mandato, sem obrigação de pagar compensações (o que terão de fazer a partir de agora).
Esta possibilidade está contemplada no acordo de aquisição da instituição bancária, subscrito a 17 de Outubro de 2017, entre o comprador (Lone Star) e o vendedor (o Fundo de Resolução/Estado). E a cláusula foi “assinada” pelos sete executivos: António Ramalho, (CEO), Jorge Cardoso (CFO), Vítor Fernandes, Luísa Soares da Silva, Rui Fontes, José Eduardo Bettencourt e Isabel Ferreira que, entretanto, se afastou por razões pessoais.
O tempo para o fundo texano se posicionar sobre o futuro da alta direcção da instituição bancária terminou a 17 de Abril de 2018, com a decisão de manter os executivos no cargo até 2020.
Fonte do Lone Star avançou ao PÚBLICO que a gestão de António Ramalho foi já reconfirmada, o que foi corroborado por um responsável oficial do Novo Banco.
Foi em Abril de 2017 que o Fundo de Resolução, ainda detentor de 100% do capital, reconduziu no cargo a equipa executiva. Na altura, já se sabia que o Lone Star tinha sido seleccionado para ficar com o Novo Banco, dossiê que seria fechado em Outubro.
Durante os seis meses de reflexão, a empresa Egon Zehnder, que foi contratada pelos norte-americanos, esteve a inspeccionar actos de gestão da alta direcção do Novo Banco, incluindo decisões dos sete executivos, nomeadamente, anteriores a Outubro de 2017.
Tal como noticiou o PÚBLICO a 22 de Fevereiro, o Lone Star fez mais, pois destacou o alemão Benjamin Friedrich Dickgiesser, de 34 anos, para acompanhar o dia-a-dia da equipa de António Ramalho. E confiou a análise dos grandes riscos de crédito a Byron Haynes, que preside ao conselho geral e de supervisão (não executivo).
No início de Março foi noticiado que a Direcção-geral da Concorrência europeia atribuía “falhas significativas nas capacidades de gestão” do BES e do Novo Banco, na concessão e na gestão do risco de crédito e na avaliação das perdas potenciais. A informação reportava acções anteriores ao colapso do BES, e mencionava novo financiamento atribuído em 2016.
O relatório, que foi noticiado pelo Observador a 7 de Março de 2018, avançava que a Comissão Europeia confiava agora que o fundo abutre Lone Star, e a gestão do Novo Banco, teriam “todos os incentivos para garantir que as práticas passadas que levaram a problemas significativos do BES e posteriormente no Novo Banco não continuarão no futuro”.
Na sequência da venda do Novo Banco, o Lone Star dispensou todos os administradores não executivos que o Fundo de Resolução nomeara seis meses antes. E no conselho geral e de supervisão, que tem à frente Byron Haynes, estão sete gestores estrangeiros, a quem se juntou agora Carla Antunes da Silva, uma directora do Lloyds Banking Group.
O Banco Central Europeu autorizou Carla Antunes da Silva a exercer funções em simultâneo em dois bancos diferentes.
Com 25% do Novo Banco, o Fundo de Resolução, que é risco público, aceitou ficar fora dos órgãos sociais. Isto, ainda que durante oito anos, o Fundo de Resolução mantenha responsabilidades, podendo ser chamado a investir até 3,89 mil milhões de euros para recapitalizar o banco controlado pelos norte-americanos.
Este mecanismo de capital contingente foi entretanto activado, em 791,7 milhões de euros (o Estado avançou com esta quantia para recapitalizar de novo o Novo Banco), devido à dimensão das perdas apresentadas por António Ramalho em 2017, e que totalizaram um prejuízo histórico: 1,395 mil milhões de euros (acima dos 788,3 milhões de euros de 2016), com mais de dois mil milhões de euros de imparidades (provisões para perdas potenciais).