Grupos como os Hells Angels identificados como ameaça à segurança nacional
Referência feita no Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2017. Grupo praticamente só admite homens caucasianos com motas Harley-Davidson.
Os grupos violentos de motociclistas como os Hells Angels são identificados como uma ameaça à segurança nacional no último Relatório Anual de Segurança Interna, relativo a 2017. É a primeira vez, nos últimos anos, que surge esta referência no capítulo das ameaças globais à segurança, sem que se precise qualquer um dos nomes dos chamados clubes de motociclismo (MC 1%, na denominação inglesa), normalmente associados a actividades criminosas.
A expressão MC 1% surgiu em 1947, na Califórnia, em resposta à violência ocorrida numa concentração onde ficaram feridas cerca de seis dezenas de pessoas. A Associação Americana de Motociclistas veio então garantir que 99% dos aficionados de motos eram pessoas cumpridoras da lei. Tal provocou uma reacção de vários grupos que diziam integrar o restante 1%.
Também é utilizada a expressão biker 1%, como aparece no relatório. O termo biker é usado em oposição ao de motard. Enquanto os primeiros transformam o gosto pelas motas num modo de vida, normalmente associado ao crime, os últimos vêm a modalidade como um simples passatempo, como nota o oficial da GNR, Edgar Palma, num trabalho realizado no âmbito de um mestrado na Universidade de Lisboa, em Novembro de 2015.
“Os grupos criminosos violentos e organizados deram continuidade à promoção dos seus interesses próprios no contexto da segurança privada, com especial destaque para aquela que é desenvolvida no âmbito da diversão nocturna”, lê-se no trabalho académico. Um dos principais grupos identificados “são os denominados biker 1%, sobretudo porque não hesitam em recorrer ao uso da força para se imporem no meio e para extorquirem os proprietários dos estabelecimentos”. E acrescenta: “Para além disto, os clubes biker MC1% constituem ainda uma preocupação securitária acrescida pelas outras actividades criminosas que praticam.”
Os Hells Angels são um grupo com uma estrutura bem definida e hierarquizada, que praticamente só admite homens caucasianos com motas Harley-Davidson, nota Edgar Palma. O lugar que cada um ocupa nas colunas quando se deslocam é rígido e representativo da sua posição na hierarquia. O seu principal símbolo é uma caveira voadora. E é de tal forma importante que quando um membro o tatua no corpo e depois é expulso do grupo, o símbolo tem de ser removido. "Usualmente [as tatuagens] são retiradas pela força, quer através de uma faca, quer através de um ferro em brasa", escreve Edgar Palma.
No retrato que faz sobre o perigo do grupo em Portugal, o oficial sublinha “a índole extremamente agressiva e violenta dos Hells Angels”. A sua ameaça “é real, está próxima e tem estado em crescimento”. A conclusão segue-se a um balanço dos episódios de violência deste grupo nos media. Em Julho de 2005, pelo menos seis elementos do grupo espancaram um ex-membro, sequestrando-o de seguida com a sua companheira. Em 2010, o tribunal de Sintra condenou seis dos sete arguidos a uma pena de prisão de cinco anos suspensa.