Autoridades preocupadas com extrema-direita e com ocupação de casas por "anarquistas"
A violência permaneceu o traço marcante da extrema-direita, diz Relatório de Segurança Interna. Foram registadas agressões a militantes antifascistas. Ocupação de casas em Lisboa e Porto é enquadrada no campo dos extremismos políticos.
As autoridades estão preocupadas com os movimentos anarquistas que ocuparam casas devolutas em Lisboa e no Porto “enquanto forma de protesto contra o capitalismo”.
Estes grupos são descritos no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) deste ano – que foi divulgado nesta quinta-feira – como sendo "de cariz radical”, tentando mobilizar os moradores de “zonas urbanas sensíveis” e instrumentalizando-os.
Acrescenta o documento que aos “factores de risco” daquelas áreas associam-se dinâmicas de criminalidade por parte de “grupos violentos residentes” e “comportamentos de resistência contra a autoridade do Estado, principalmente forças de segurança”.
Em Setembro, um grupo de cidadãos, Assembleia de Ocupação de Lisboa (AOLX), instalou-se num prédio em Arroios, Lisboa, em protesto contra o avanço da “especulação imobiliária”. Em Janeiro, foram despejados pela Câmara Municipal de Lisboa. No Porto, em Outubro, a autarquia despejou 21 pessoas de uma escola ocupada.
Esta preocupação com os "anarquistas", sublinhada no RASI, é enquadrada no campo dos extremismos políticos, nos quais os autores do relatório encaixam ainda a extrema-direita portuguesa. Sobre este grupo, referem que a violência “permaneceu como um traço marcante”. Registaram-se incidentes, “nomeadamente agressões a militantes antifascistas”, e o envolvimento de militantes do movimento skinhead neonazi em actividades criminosas.
Já em relação aos grupos anarquistas, as autoridades mostram como sinais de preocupação aquilo que classificam de organização de actividades “de propaganda e de doutrinação ideológica” – com a publicação de jornais, organização de palestras, debates, projecções de filmes, apresentações de livros – e contactos internacionais feitos para “aproximar o movimento português da teoria e praxis insurreccionais”, tendo alguns militantes participado em "protestos violentos contra o G-20 na Alemanha”.
“Reconquista” da Europa
Quanto à extrema-direita portuguesa, a descrição do RASI é mais detalhada, refere que desenvolveu uma continuidade de “aproximação às principais tendências europeias” naquilo que o documento descreve como a luta pela “reconquista” da Europa pelos europeus. “Para além de intensificarem os contactos internacionais, estes extremistas desenvolveram um esforço de convergência dos seus diferentes sectores (identitários, nacional-socialistas, skinheads), no sentido de promoverem, no plano político e metapolítico, os seus objectivos. Assistiu-se a um reforço da propaganda online e à multiplicação de iniciativas com alguma visibilidade – como concertos, conferências, apresentações de livros e protestos simbólicos – participadas por militantes de diferentes quadrantes.”
O RASI refere ainda "grupos criminosos violentos e organizados" que promovem interesses "na segurança privada", especialmente na diversão nocturna que, "na última década, se tem consolidado como terreno fértil para esses grupos". Os Biker 1%, que não hesitam em recorrer à força, e os clubes Biker MC1% representam uma "preocupação securitária acrescida", acrescenta.