Malta, um recanto no Mediterrâneo
O leitor Helder Taveira partilha a sua experiência pelo arquipélago.
A viagem a Malta, que se estendeu às ilhas de Gozo e Comino, surpreendeu-nos de forma muito positiva, quer pela diversidade da paisagem, quer pelo património cultural.
Malta é um pequeno país mediterrânico, com apenas 360 km2, e que se situa entre a costa da Sicília e a 290 km da Tunísia no continente africano.
Com um clima mediterrânico e gente simpática, foi uma agradável surpresa. Sempre presente a influência que sobre essas ilhas exerceu a Ordem dos Templários, mais conhecida como a Ordem de Malta, ninguém fica indiferente ao rico património arquitectónico das ilhas.
Malta tem uma cultura riquíssima graças às ocupações árabes, francesas, italianas e inglesas. Tem cerca de 7000 anos de história. Foi colonizada pelos fenícios em 800 a.C., pelos cartagineses em 480 a.C., romanos em 218 a.C.
Em 1530 chegaram os Cavaleiros de São João, ordem religiosa e militar pertencente à igreja católica, que ficaram conhecidos como Templários que tiveram aí grande influência.
Napoleão conquistou Malta àquela ordem religiosa e depois perdeu-a para os ingleses, que a tornaram numa colónia até 1964.
O nome Malta tem origem na palavra Malet, que significa abrigo, ou seja, era um porto seguro para o comércio fenício. Sinal de boa sorte, ainda hoje, no belo porto de Marsaxlokk, são visíveis nos barcos de pesca, pintados na proa, uns olhos grandes e rasgados. Neste simpático porto piscatório, podemos encontrar um mercado e restaurantes que servem o que é considerado o melhor peixe da ilha.
No ano de 60 d.C. o barco do Apóstolo São Paulo naufraga na ilha e esta converte-se ao cristianismo. Seguiu-se o domínio bizantino, os árabes e o islamismo e a sua influência na língua maltesa.
Agradável também em termos de temperatura, com clima mediterrânico temperado.
Cenário de muitos filmes, desde logo a Guerra dos Tronos, passando pelo Gladiador com Russel Crowe ou Troia, com Brad Pitt.
Podemos ainda visitar a aldeia construída como cenário para o filme Popeye. Localizada na ilha de Malta, a Popeye Village foi criada inicialmente com a ideia de ser cenário do filme de 1980. O local acabou por se tornar residência para algumas pessoas, e hoje, 30 anos depois, é uma vila e um ponto turístico no Sul da ilha.
La Valetta é um encanto. Património Mundial da UNESCO desde 1980, é uma capital cheia de história e belos monumentos de vários estilos arquitectónicos e onde é visível em cada canto a influência da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários, aqui chegada em 1530. Capital Europeia da Cultura 2018, a cidade está cheia de cores e obras de arte espalhadas pelas ruas. Belos palacetes que foram pertença de famílias nobres. O porto acolhedor e que inspira segurança aos muitos cruzeiros que cruzam o Mediterrâneo e que por aqui atracam.
Em termos arquitectónicos, não há nada mais típico em Malta que o inconfundível balcão maltês. Diz-se que o primeiro exemplar terá sido instalado no Palácio do Grão-Mestre, popularizando-se a partir daí o seu uso, mas ainda há dúvidas sobre a sua origem, sendo possivelmente o resultado da influência dos inúmeros escravos de origem turca que por aqui viveram.
Ninguém melhor que Eça de Queiroz a descreveu, quando por aí passou a caminho do Egipto, onde iria assistir à inauguração do Canal de Suez, em Novembro de 1869. “As paredes brancas, claras, imensas, desenhando linhas severas de muralhas, têm um aspecto misterioso, e fazem pensar ao mesmo tempo no Oriente e na Renascença Veneziana. Grandes balcões envidraçados e salientes dão às ruas um perfil pitoresco. De ambos os lados erguem-se casas enormes, de fisionomia altiva e impenetrável, longas arcadas misteriosas, terraços sucessivos, fragmentos de esculturas, detalhes admiráveis que parecem italianos pelo mistério e orientais pela fantasia. Todo aquele mundo pitoresco e bárbaro nos trazia à memória os seus cavaleiros brancos, altivos, trazendo a cruz vermelha ao peito.”
A ilha de Gozo, com a sua cidadela, transporta-nos para outros tempos e merece sem dúvida uma visita. A famosa Janela Azul, arco de rocha com vista para o mar, muito embora já não exista por se ter desmoronado, continua a ser o “ex-líbris” da ilha, aparecendo em todos os guias turísticos, enganando assim os menos atentos, que ainda se deslocam a Gozo com intenção de a ver.
O coração de Gozo é a cidadela, no topo da colina que ganhou importância na Idade Média, sendo já ocupada por povos pré-históricos. Circundada por muralhas datadas do século XV e que foram construídas pelos fenícios. Os ferryboats que diariamente fazem a travessia tornam a ilha acessível.
A ilha de Comino, com apenas cerca de 3km2, é um lugar que não poderemos deixar de visitar, quanto mais não seja pela beleza da lagoa Azul, cenário de alguns filmes.
A viagem a Malta foi curta, mas proveitosa. Ficamos com a sensação que muito ficou ainda por ver e será um local onde, certamente, voltaremos.
Helder Taveira, com Luísa Matos e Sara Grácio