Ministro diz que 98% das camas do SNS não registam instabilidade com as 35 horas
Com excepção do PS, todos os partidos foram unânimes a considerar que o Governo não planeou devidamente a passagem às 35 horas de trabalho semanais.
O ministro da Saúde disse nesta quinta-feira que "98% das 21 mil camas" existentes no Serviço Nacional de Saúde não registam qualquer instabilidade com a passagem às 35 horas semanais de trabalho dos profissionais, pedindo à oposição para não ser alarmista.
"Se o hospital A ou B tem uma dificuldade concreta, não a desvalorizamos. Mas 21 mil camas não são oito, nove ou dez", afirmou Adalberto Campos Fernandes no Parlamento, considerando que a esmagadora maioria dos hospitais está em situação de normalidade com a passagem de profissionais de saúde das 40 para as 35 horas semanais.
Num debate sobre política de saúde a pedido do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), o ministro da Saúde considerou que "apesar do alarmismo", o Governo está "a fazer o trabalho que importa", mas voltou a não se comprometer com a contratação de mais profissionais a partir de Setembro.
Segundo o Ministério da Saúde, até Maio foram contratados 1600 profissionais para suprir as necessidades da passagem de trabalhadores às 35 horas de trabalho semanais e vão ser contratados este mês mais 2000.
Há duas semanas no Parlamento, o ministro Adalberto Campos Fernandes tinha indicado que em Setembro ou Outubro haveria uma nova vaga de contratações, mas nesta quarta e quinta-feira comprometeu-se apenas a fazer uma reavaliação das necessidades.
PCP, PEV e Bloco de Esquerda insistiram com o ministro para saber se haverá mais contratações depois do Verão, lembrando que seriam necessários a partir de agora cerca de 6000 novos profissionais com a passagem a 1 de Julho para as 35 horas semanais e não apenas os 2000 que foram anunciados.
O PEV chegou mesmo a acusar o ministro de ter recuado na contratação de mais profissionais de saúde a partir de Setembro ou Outubro, relembrando o que Campos Fernandes tinha dito no Parlamento há duas semanas.
Com excepção do PS, todos os partidos foram unânimes a considerar que o Governo não planeou devidamente a passagem às 35 horas de trabalho semanais a partir de 1 de Julho de milhares de enfermeiros, técnicos e assistentes no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Além das críticas do PSD e do CDS, também os partidos à esquerda do PS sublinharam a falta de investimento em profissionais e no SNS. Da parte do PCP, a deputada Carla Cruz considerou "inaceitável" que o ministro da Saúde assuma, como fez na quarta-feira, que não haverá condições financeiras para contratar o universo de profissionais de saúde desejável.
"Não é a falta de dinheiro, é a falta de vontade política que impede a contratação de mais profissionais", acusou Carla Cruz.
O Bloco de Esquerda, pela voz do deputado Moisés Ferreira, insistiu que é necessária a "contratação imediata de cinco a seis mil profissionais" e não apenas dos 2000 que o Governo anuncia que contratará.
"Não nos digam que não é possível investir em profissionais por causa do IP3. Não nos digam que o investimento em profissionais é mutuamente exclusivo do investimento em infra-estruturas. Porque não acreditamos e porque não é verdade", afirmou o deputado bloquista.
Acesso ao SNS tem piorado, dizem partidos
O BE considera que as medidas do Governo socialista têm sido insuficientes e recorda que é necessária celeridade a abrir concursos para que entrem no SNS os médicos que acabaram a sua formação em Abril, que são mais de mil.
Para Moisés Ferreira, as autorizações para contratar continuam "reféns do Ministério das Finanças" e grande parte dos pedidos de contratação feitos pelos hospitais ou não têm resposta ou são negados.
Da parte do PSD e do CDS foram dirigidas várias acusações de que o acesso ao SNS tem piorado, de que aumentou a espera dos doentes e de que a realidade sentida por profissionais e utentes é dissonante da do discurso do Governo.
A encerrar o debate, Heloísa Apolónia, do PEV, também concordou que a degradação do SNS "é visível", embora considerando que grande parte da responsabilidade da destruição do serviço público de saúde é do anterior Governo PSD-CDS. Ainda assim, a deputada de Os Verdes pede ao Governo que reverta a política de parcerias público-privadas na saúde e não continue a alimentar o negócio dos privados.