Organização Internacional das Migrações pode rejeitar nome escolhido por Trump
Além de Ken Isaacs – que já fez declarações contra o Islão, apesar de ter pedido desculpa depois –, outro dos candidatos a director-geral desta agência da ONU é o português António Vitorino.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indicou o nome de Ken Isaacs para presidir à Organização Internacional para as Migrações (OIM, uma agência das Nações Unidas). Mas Isaacs pode ser o primeiro norte-americano rejeitado para o cargo em quase 50 anos — membro de uma associação de solidariedade evangélica, já acusou o Corão de incitar à violência.
A escolha do novo líder da organização, à qual concorre o antigo ministro da Defesa português, António Vitorino será feita nesta sexta-feira. Há ainda outra candidata a substituir o actual líder da OIM, William Swing (que ocupa o lugar há praticamente dez anos), a costa-riquenha Laura Thompson, que já é representante do actual líder.
A organização foi criada na década de 1950 para resolver os problemas relacionados com os movimentos migratórios causados pela Segunda Guerra Mundial e todos os seus líderes foram norte-americanos até hoje (à excepção de um holandês que esteve à frente da instituição na década de 1960). A OIM faz acções por todo o mundo, que vão desde ajudar países europeus a gerir a chegada de centenas de migrantes a ajudar refugiados rohingya no Bangladesh.
Ken Isaacs, o nome apontado por Trump há alguns meses, é vice-presidente da organização evangélica norte-americana Samaritan’s Purse. Em Fevereiro, o jornal Washington Post encontrou várias publicações de Isaacs em redes sociais em que denegria a imagem dos muçulmanos. Numa delas, Isaacs comentou um artigo da CNN sobre um ataque em Londres afirmando que “quem leu o Corão saberá perfeitamente que ‘isto’ é precisamente aquilo que a fé muçulmana ordena que seja feito”.
Num outro tweet escreveu: “Se o Islão é uma religião de paz, quero ver dois milhões de muçulmanos no National Mall [um parque em Washington D.C.] a marchar contra a jihad e a lutar pela América. Ainda não o vi!”.
Isaacs pediu desculpa por ferir quaisquer susceptibilidades e garantiu que “nunca foi discriminatório com nada nem ninguém, ponto final”; acrescentou ainda que fazia retweets e comentava artigos do género para fomentar o debate. O Departamento de Estado norte-americano disse que o seu pedido de desculpas era “adequado” e que as suas publicações “privadas” nas redes sociais não o desqualificavam de poder ser eleito líder da organização.
“O Sr. Isaacs tem um compromisso com ajudar refugiados e tem um longo historial de auxiliar aqueles que estão em sofrimento. Acreditamos que, caso ele seja escolhido para liderar a OIM, tratará as pessoas de igual forma e com a dignidade e respeito que merecem”, afirma o comunicado do Departamento de Estado. Em Março, Isaacs tinha sido apresentado por Jennifer Arangio, do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, como “a encarnação daquilo em que os Estados Unidos acreditam”.
Ainda que Isaacs tenha referido que não irá representar a administração Trump se for escolhido para o cargo de director-geral, também deixou claro que não irá questionar as políticas de Trump, muitas vezes vistas como hostis para os imigrantes.