Americanos não gostam que crianças sejam separadas dos pais, mas Trump mantém apoio

Apesar de terem ficado desconfortáveis com a separação de famílias de imigrantes na fronteira com o México, os apoiantes de Donald Trump mantêm-se ao lado do Presidente.

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Donald Trump num comício nesta quarta-feira no Minnesota LUSA/CRAIG LASSIG

As críticas pela separação de famílias imigrantes na fronteira com o México, provocada pela política de “tolerância zero” de Donald Trump, foram de tal ordem que os analistas falaram na possibilidade de eclodir uma crise política e do fim da margem de manobra do Presidente dos EUA. Mas essa tese já está a ser contrariada porque Trump garantiu que vai manter a sua abordagem ao problema da imigração, oferecendo à sua base de apoio o que ela sempre quis: uma linha dura na entrada de migrantes no país.

Horas depois de, na quarta-feira, assinar o decreto que pretende pôr ponto final nas separações – através da detenção de famílias no mesmo local –, Trump foi a Duluth, no Minnesota, para um comício. Perante nove mil pessoas, recuperou parte da retórica utilizada durante a campanha presidencial de 2016 sobre a imigração.

“Os democratas não se preocupam com o impacto da migração descontrolada nas nossas comunidades, escolas, hospitais, emprego e segurança. Os democratas põem os imigrantes à frente dos cidadãos americanos”, disse. “Os media nunca falam das vítimas americanas da imigração ilegal”.

Em resposta, arrancou intensos aplausos à multidão, intervalados com o cântico que ficou conhecido durante a campanha: “Build that wall” ("constrói o muro" na fronteira com  México).

A confirmar esta tendência positiva para Trump, estão quatro sondagens sobre a crise na fronteira divulgadas nos últimos dias pela CBS News, CNN/SSRS, Ipsos/Daily Beast e Quinnipiac. Em todas, os dados são semelhantes: uma larga maioria dos americanos opõe-se à separação de famílias, mas quando se chega aos números obtidos junto dos eleitores republicanos, a maioria concorda.

Esse posicionamento é também transcrito nas reportagens feitas nos últimos dias entre os eleitores de Trump. Ainda que as imagens de crianças aflitas por serem separadas dos pais lhes provoque desconforto e choque, o apoio à mão pesada do Presidente mantém-se.

“Não queremos que as famílias sejam separadas, mas pelo menos o Presidente focou a sua atenção em todas as pessoas que cruzam a fronteira ilegalmente”, disse ao New York Times Helen Delavan, texana de 79 anos que apoia Trump.

Ao Guardian, Tyler Sterner, do Minnesota, uma das pessoas que assistiu ao comício em Duluth, disse que o cenário na fronteira do México “não parece bom”. Mas, acrescentou, é preciso “escolher” e na sua aopinião Trump “fez mais do que qualquer outro Presidente”.

É nisto que assenta o discurso e argumentação da grande maioria dos eleitores republicanos ouvidos pelos media.

Apesar das críticas de alguns dos seus apoiantes e de uma parte do Partido Republicano, não houve recuo de Trump nas suas intenções na entrada de imigrantes nos EUA. E dificilmente seria de outra forma, pois estas propostas foram um dos factores que levaram à sua eleição.

“Uma linha dura na imigração foi um alicerce ideológico fundamental da candidatura de Trump. Agora, o país está a assistir à aplicação dessa ideologia, em especial depois de um ano em que pouco se fez em termos legislativos sobre o tema. Trump parece estar à procura de uma saída para uma má política mas sem parecer que está a comprometer os seus princípios”, nota Domenico Montanaro, editor de política da rádio pública americana NPR.

O jornalista do Washington Post Michael Scherer propõe outro prisma para analisar a questão: “Projectar força foi sempre o pilar central da política de Trump, a razão por trás da sua constante atracção pelo conflito, e é também o que atrai eleitores desesperados por mudanças e por contarem com um aliado poderoso. E a imigração foi sempre a sua arena favorita para flexibilizar os seus músculos de retórica.”

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