Da equipa B para o Campeonato do Mundo

Há 37 jogadores que actuam em escalões secundários convocados para o Mundial. Austrália e Islândia têm cada uma seis futebolistas nesta situação

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Francis Uzoho, guarda-redes do Deportivo B Carl Recine/Reuters

Estar num clube de topo é meio caminho andado para um futebolista ter a atenção do seu seleccionador nacional e ficar mais perto de um lugar entre os eleitos para as grandes competições. Não é de admirar que a lista de clubes que cedem mais jogadores a equipas que vão estar no Mundial 2018 seja liderada pelo Manchester City, seguido por Real Madrid, Barcelona, Tottenham, Paris Saint-Germain e Juventus. Porém, a concorrência nestes emblemas também pode ser um problema, daí que sejam muitos os que, para jogarem com regularidade, optem por fazer carreira a um nível competitivo mais baixo. Mas isso não significa que saiam do radar dos seleccionadores: dos 736 futebolistas que vão estar no Campeonato do Mundo da Rússia, 37 actuam em clubes de escalões secundários.

Outros, por serem ainda jovens, estão no trajecto ascendente das suas carreiras e ainda não chegaram ao topo, mas merecem a confiança dos seleccionadores. Entre as escolhas mais extraordinárias para o Mundial 2018 está a convocatória de dois futebolistas da equipa B do Deportivo da Corunha. A formação secundária do emblema galego competiu no terceiro escalão do futebol espanhol mas cede Francis Uzoho à Nigéria e Ismael Díaz ao Panamá. O primeiro, um guarda-redes de apenas 19 anos, fez história em Outubro, quando se tornou o guarda-redes estrangeiro mais jovem de sempre a estrear-se na Liga espanhola: tinha 18 anos e 352 dias quando mereceu a confiança de Pepe Mel. “Tem muita qualidade, via-se o potencial, e teve a sorte de encontrar um treinador a quem não importa a idade”, afirmava na altura o técnico. Francis defrontou o Eibar e o Girona, mas depois Pepe Mel foi despedido e o nigeriano regressou à equipa B.

Também ao Deportivo B, o Panamá foi recrutar Ismael Díaz. O avançado de 21 anos, que entre 2015 e 2017 representou a equipa B do FC Porto (chegou a estrear-se pela formação principal dos “dragões”, em 2015-16, num jogo da Taça da Liga, pela mão de Rui Barros – na transição entre Julen Lopetegui e José Peseiro), disputou 12 encontros e marcou seis golos pelo Fabril, como se designa a equipa B do Deportivo da Corunha. Na selecção do Panamá, estreante em fases finais do Campeonato do Mundo, Ismael Díaz terá a companhia de Yoel Bárcenas, médio que actua no segundo escalão do futebol mexicano: representa o Cafetaleros de Tapachula, clube com um nome mais curioso e que foi fundado há somente três anos.

Precisamente metade das selecções que participam na fase final do Mundial 2018 integra pelo menos um futebolista que nesta temporada representou um clube de um escalão inferior. Austrália e Islândia, com seis exemplos cada, são as finalistas do Campeonato do Mundo que mais recorreram a jogadores de divisões secundárias. O mais ilustre deles é o veterano Tim Cahill, que aos 38 anos regressou à Europa para jogar pelo Millwall, do segundo escalão do futebol inglês, e ainda convenceu Bert van Marwijk a incluí-lo na lista de 23 convocados. Será o quarto Mundial da carreira de Tim Cahill, que marcou golos nas outras três participações (2006, 2010 e 2014).

Deste universo de 37 jogadores distribuídos por 16 selecções, quase dois terços (24 futebolistas) actuaram nas competições secundárias de Inglaterra. Por exemplo, o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, que conquistou o título no Championship, envia ao Mundial o marroquino Romain Saiss e o senegalês Alfred Ndiaye. Mas, mesmo entre os “mundialistas” que actuam nas divisões secundárias, nem todas as histórias são feitas de sucesso. No extremo oposto da tabela do Championship, o Sunderland (que passou parte da época ancorado ao último lugar, consumando a despromoção ao terceiro escalão) estará representado na Rússia pelo costa-riquenho Bryan Oviedo. Mais abaixo esteve o egípcio Sam Morsy, que, tal como Francis Uzoho e Ismael Díaz, passou a temporada a competir na terceira divisão: o médio de 26 anos envergou a camisola do Wigan, esteve entre os mais utilizados, e contribuiu para os “latics” regressarem ao Championship, uma época depois da queda.

Para além do nigeriano Francis Uzoho, há outros quatro guarda-redes entre os 37 futebolistas “secundários” que vão ao Mundial. O islandês Frederik Schram, o marroquino Monir El Kajoui, o polaco Bartosz Bialkowski e o tunisino Mouez Hassen.

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