Compras de fármaco para deixar de fumar quase duplicaram em 2017

Secretário de Estado diz que só será possível avançar com mais medidas contra o tabagismo na próxima legislatura. A próxima medida deverá ser a dos maços de cigarros sem logótipos ou publicidade, o chamado plain packaging.

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Bruno Lisita

O número de pessoas que tenta deixar de fumar está a aumentar em Portugal. Provam-no os dados das vendas do fármaco para deixar de fumar Champix – que passou a ser comparticipado desde Janeiro do ano passado – e o número de consultas de cessação tabágica no Serviço Nacional de Saúde, que também estão a crescer.  

O total de embalagens vendidas de Champix (substância activa varenicilina) quase duplicou de 2016 para 2017 (aumentou 93%, para um total de 64.286 caixas). E no primeiro trimestre deste ano a tendência mantém-se: já foram comercializadas 18.541 embalagens deste medicamento para ajudar quem quer deixar de fumar, segundo os últimos dados adiantados ao PÚBLICO pelo Ministério da Saúde.

Desde o ano passado há também mais locais com consultas de apoio intensivo à cessação tabágica - em 2017, todos os agrupamentos  de centros de saúde passaram a disponibilizar este  tipo de serviço -, e o número de atendimentos disparou: no ano passado, as primeiras consultas cresceram 61%, passando de 7145 para 11.493  e, incluindo as de seguimento, o aumento global foi de 25%.

No total, fizeram-se quase 40 mil consultas de apoio intensivo a quem quer deixar de fumar no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no ano passado e o número de locais onde este tipo de atendimento está disponível, nos centros de saúde e nos hospitais públicos, passou para 218 em todo o país (quando eram 180 no ano anterior). A tendência mantém-se este ano: no primeiro trimestre já se fizeram 10.430 consultas de cessação tabágica no SNS.

Apoio a quem quer deixar de fumar

Esta é outra das frentes da luta antitabagista do Governo, sublinha o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo. Se o objectivo primordial é o de apostar nas campanhas focalizadas nas mulheres, sobretudo as mais jovens, e se pretende também evitar ou atrasar o consumo de tabaco em idades precoces, também não está a ser descurado o apoio a quem quer deixar de fumar, frisa o governante.

O certo é que, quando a lei do tabaco foi aprovada, em 2017, as consultas de cessação tabágica começaram por aumentar numa primeira fase para depois irem diminuindo. Entre 2009 e 2013, passaram de 25.765 para 21.577, e o número de locais de atendimento para esse fim caíram de 223 para 116.

Agora, volta-se a apostar no apoio a fumadores que queiram largar o vício. Entretanto, a lei do tabaco foi alterada no início deste ano. Passaram a estar abrangidos no conceito de fumar os novos produtos de tabaco sem combustão e foi alargada a proibição de fumar a espaços públicos abertos destinados a menores de 18 anos, como infantários, creches, centros de ocupação de tempos livres, parques infantis e locais similares.

Quanto a outro tipo de medidas, como a da proibição de fumar dentro dos carros, que chegou a ser equacionada pelo anterior Governo, Fernando Araújo afirma que nada disto deverá avançar tão cedo. "A lei foi mudada recentemente. Nesta legislatura, já não será possível ir mais longe", acentua o secretário de Estado, que admite, porém, que mais tarde será possível avançar para medidas que já provaram ser efectivas noutros países, como a dos maços de cigarros sem marcas, logotipos ou publicidade, o  chamado plain packaging. “Temos de esperar por uma nova janela de oportunidade para voltar a mexer na lei”, sustenta.

Os especialistas insistem que aumentar o preço dos cigarros é a medida mais eficaz para diminuir o consumo do tabaco. Fernando Araújo concorda, mas ao mesmo tempo lembra que essa medida habitualmente tem um efeito secundário, como o de provocar o aumento do contrabando de tabaco.

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