O maior problema da PAC
O verdadeiro problema da PAC é sua incapacidade de contrariar a falta de reconhecimento que o mundo rural tem tido na sociedade, nos tempos mais recentes.
O maior problema da PAC (Política Agrícola Comum) está para além dos cortes recentemente anunciados pelas autoridades europeias. O verdadeiro problema da PAC é sua incapacidade de contrariar a falta de reconhecimento que o mundo rural tem tido na sociedade, nos tempos mais recentes.
A Europa anunciou recentemente um possível corte de verbas orçamentais destinadas à PAC e à Coesão no próximo quadro comunitário, avizinhando-se elevadas adversidades em muitas áreas apoiadas por estas duas politicas. Contudo, poucos foram aqueles que sentiram neste anúncio alguma ameaça à sua vida futura. Para além das organizações agrícolas e alguns políticos, que manifestaram a sua preocupação, poucos se incomodaram com as consequências da diminuição das verbas comunitárias para estas duas politicas cruciais a Portugal. Aliás, julgo que poucas pessoas estarão devidamente informadas sobre o verdadeiro impacto que estes fundos têm na vida quotidiana de cada um de nós.
Se o fundo de Coesão invoca a solidariedade entre regiões e transporta para a sua execução a possibilidade de garantirmos a coesão territorial, num país que apesar da sua pequena dimensão é tão assimétrico, a Politica Agrícola Comum, a única verdadeira política comum europeia, remete-nos para ajudas ao rendimento e ao investimento aos agricultores, que permitem não só um apoio à sua competitividade, mas também à viabilidade de muitas explorações agrícolas produtoras de alimentos. Clarificando, o impacto que a politica agrícola comum tem nas nossas vidas é o acesso a alimentos a preços acessíveis. O verdadeiro apoio da PAC é aos milhares de consumidores europeus que só assim conseguem manter uma alimentação de qualidade, com elevadas regras de segurança alimentar, a preços democráticos. Este é o ponto essencial que muitas vezes é esquecido.
Mais, esquecemos este mundo, fulcral para a nossa vida, que muitos pensam longínquo, mas, em grande parte das vezes, está mesmo ao nosso lado e nós não o valorizamos devidamente.
Contudo, se é verdade que a sociedade atual tem vindo a desprezar esta ruralidade, também não é mentira que a tutela, seja ao nível europeu quer ao nível do Estado-membro, não tem feito o esforço necessário para conquistar mais reconhecimento para este setor de uma comunidade cada vez mais urbana.
A obtenção deste reconhecimento é primordial e também passa pela promoção e divulgação dos melhores produtos endógenos. No caso português, mostrando a nível nacional e internacional a excelente qualidade daquilo que produzimos, da imensa diversidade cultural do nosso território e da importância da multifuncionalidade que a atividade agrícola tem, em especial nas regiões cada vez mais desertificadas.
É imperativo valorizar as atividades relacionadas com o mundo campestre, as profissões, as ações culturais que se interligam com esta ruralidade, bem como criar politicas públicas que tornem a atividade no mundo rural atrativa. Só assim podemos evitar o abandono das terras e a promoção da produção agrícola. Para tal, entendo fundamental manter o atual volume financeiro da PAC destinada a Portugal, e, acima de tudo, a existência de políticas públicas que valorizem a produção de alimentos, tornando mais percetível para os consumidores a importância de uma politica agrícola forte e coesa no seio da Europa.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico