Cuidado: nesta casa faz-se dieta
Estamos perante a maior assombração que pode existir. Um verdadeiro pesadelo. Certamente não será uma realidade apenas minha, mas viver numa casa onde há uma pessoa a fazer dieta é das tarefas mais custosas. Troquem as tabuletas que dizem "Cuidado com o cão" por "Cuidado, aqui faz-se dieta"
Quem não pensa nas dietas está habituado a tomar um pequeno-almoço digno, com pão, torradas, manteiga e iogurte, ou outros. Não com sementes, a Vaca que Ri Light e Corpos Danone 0% com sabor a ar. O dia começa, o Sol chegou, ainda ensonados e descalços na cozinha, sai a pergunta:
- Onde é que meteste a manteiga?
- Acabou. Agora só Becel. Também é bom. Ou esta de soja. Prova.
Imaginemos o cenário: o início de um jantar onde procuramos aquelas mini-tostas para as entradas só para matar este ratito que temos por dentro e damos de caras com rodelas de maçã seca biológica ou desidratada. Ou quando estamos nós desidratados com o tempo quente e a sede a apertar. Abrimos o frigorífico, bendita sejas tu garrafa de água gelada. Bebemos, sabe a limão. E lá vem ela:
- É dietético e é para eu beber. Ajuda-me a fazer chichi.
Está de noite na cozinha. Nunca vi pão tão escuro na minha vida. Espera, é integral e é para ela comer. Fruta no cesto? Claro que existe. Quis uma maçã, serviu para maçã assada. Quis uma banana, serviu para o batido. Nunca vou a tempo ao que tenho em casa. Às vezes questiono:
- Porque é que estás a beber essa sopa nesse frasco?
- Não é sopa, é detox.
- Ah, desculpe senhora Koala.
São 18h, está uma pequena caixa branca de cartão com fita-cola em cada um dos lados em cima da mesa da entrada. Tu queres ver? Foram à Padaria Portuguesa ou ao Careca e trouxeram doces para o lanche. É a minha única oportunidade de ser feliz por uns minutos. Venham de lá esses sortidos húngaros, esses palmiers ou pastéis de nata, não interessa. Abro: fatia de quiche vegetariana.
Estou desesperado, as coisas mudaram de sítio, a cozinha cheira à secção orquídeas do jardim botânico, o frigorífico já emagreceu mas ainda há esperança. Lá no fundo, bem no fundo, vejo marmelada embrulhada num saco de plástico. Maravilha, será desta? Vamos lá. Um docinho, finalmente. Aí está: é beterraba.
Este pequeno pote onde costumam estar areias está cheio. Chocalho, faz barulho. É agora! Estou pronto. Como? São nozes.
Quero sair daqui. Granola passou a ser nome do meio. Quero voltar a conviver com pessoas.