- Tu és boa enfermeira. Sabes isso? - Diz-me, galã de cinema.
Olha-se ao espelho. Olhos a trespassar o passado, distante como a pequena baía desenhada na janela. Tem, pendurados na parede, retratos. Fotografias a preto e branco. Jovens fardados formando filas.
- Eu estive na guerra. Daqui (aponta o dedo trémulo para o grupo) sou o único vivo.
É conhecido pelas longas e líquidas diarreias. Negras e urgentes. Deixam para trás um rabo vermelho, cansado de fraldas e cremes.
- Creme? Posso pôr-lhe creme? - Pergunto-lhe.
- Morangos? - Responde-me.
Eu rio de resposta deglutida com saliva e cansaço das inúmeras horas de trabalho. Olho o pequeno urso imóvel na mesa-de-cabeceira. Coloco George na cama, após longos movimentos entre andarilhos e cadeira de rodas. Retiro-lhe o aparelho auditivo, por fim. Deixo-o em silêncio, entregue a vozes interiores e sonhos reais, que o deixarão perturbado na manhã seguinte.