No Festival de Música de Setúbal, os artistas sentem-se em casa
Home é o tema da 8.ª edição de um festival que une artistas nacionais e internacionais a centenas de jovens da comunidade local. Nesta quinta-feira, depois das boas-vindas na Casa da Avenida, a música segue com Celina da Piedade e João Gil no Fórum Municipal Luísa Todi. Concerto Em Casa.
A inclusão através da música sempre foi a bandeira maior do Festival de Música de Setúbal, dirigido pelo britânico Ian Ritchie. Este ano esse propósito culmina nos conceitos de “lar, lugar, raiz, origem, casa”, traduções possíveis para a palavra “home”.
Por isso, há nomes de concertos como Ninho (no Moinho de Maré da Mourisca), De Casa em Casa (Baixa da cidade), Em Casa e Fora Dela (Igreja de São Simão, Azeitão), Em Casa, O Nosso Lar e Tudo Começa em Casa (Fórum Municipal Luísa Todi). Também a exposição na Casa da Avenida, com trabalhos de Graça Pinto Basto e textos de Maria João Frade, tem como título Home (Avenida Luísa Todi, 286).
É precisamente no cenário da exposição que se dá início à 8.ª edição do Festival de Música de Setúbal, nesta quinta-feira às 18h, com o concerto de boas-vindas aos músicos e visitantes, Por Toda a Casa, criado por jovens compositores do Conservatório Regional de Setúbal e interpretados por músicos, também jovens, da Camerata do Festival.
O programador e director artístico do festival, Ian Ritchie, referiu na conferência de apresentação que a ideia de “home” incorpora “os temas das sete edições anteriores”, lembrando que o mote do ano passado, “migrações, continua a influenciar a sociedade”. Por conseguinte, também o quis valorizar na programação de 2018.
Neste registo, enquadra-se o concerto Pátrias, que na sexta-feira, às 21h, une no palco do Fórum Municipal Luísa Todi a Orquestra Sinfónica Portuguesa Camerata do Festival de Música de Setúbal, o Conservatório Regional de Palmela e a Orquestra do Conservatório Regional de Setúbal, dirigidas por Nuno Coelho, que venceu o Prémio Jovens Músicos em 2016.
Vão interpretar Sibelius Lemminkäinen e a Ilha das Donzelas; Britten Peter Grimes, Four Sea Interludes; Smetana Šárka, O Meu País; António Laertes, Abertura A Pátria; Lopes-Graça, Cinco Romances Tradicionais Portugueses, e Sibelius, Finlândia.
No programa explica-se: “Muitos compositores inspiraram-se na música e danças tradicionais, nos mitos e lendas dos lugares aos quais chamam casa: alguns, como os compositores incluídos neste concerto, foram mais longe e criaram música que captura a essência das suas pátrias e que de alguma forma definem a sua identidade nacional.”
Regresso de músicos setubalenses
Este concerto tem ainda a particularidade de os elementos da Camerata serem jovens músicos profissionais que nasceram em Setúbal e actualmente vivem e trabalham noutros países. Um aspecto realçado por António Laertes, músico e responsável da A7M, que faz parte da organização do festival: “Uma oportunidade de regressarem a casa e mostrarem na sua terra o trabalho que andam a desenvolver noutros lugares.”
Outra originalidade deste festival é o envolvimento da comunidade escolar, tendo já participado cerca de 10 mil alunos ao longo de todas as edições. O lado mais visível deste trabalho reflecte-se no imperdível cortejo de percussão que todos os anos anima a Avenida Luísa Todi, este ano com o título Ao Ritmo da Vida e com partida do Largo José Afonso às 10h30 de sexta-feira, rumo ao fórum.
Como sempre, ao leme, o coordenador Fernando Molina, que conta com a ajuda do Ensemble de percussão do Conservatório Regional de Setúbal. O convite dita assim: “Siga os ritmos animados, sinta a energia e celebre a diversidade nas vidas daqueles para quem Setúbal é casa.”
Quem não duvida de que a cidade sabe acolher é o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina: “Temos a capacidade de saber receber e integrar, seja de forma passageira aqueles que nos visitam pontualmente em trabalho ou lazer seja de forma permanente aqueles que aqui decidem fixar residência. Sempre o fizemos. Por isso o conceito de ‘home’ faz sentido na estratégia do município. Iremos continuar a tudo fazer para que cada um sinta a nossa cidade como um lar.”
Música e comunidade
De regresso a casa está Celina da Piedade, que voltou a residir em Setúbal e que nesta quinta-feira sobe ao palco na companhia de João Gil, Amigos do Independente, Coral Infantil de Setúbal e o grupo de percussão Santiago Olodum, para o concerto Em Casa (21h, Fórum Municipal Luísa Todi).
“Cada vez sou mais solicitada para concertos que juntam vários tipos de música e estão muito integrados nas comunidades”, disse ao PÚBLICO a cantora, acordeonista e compositora. Recordou que, depois de o cante ter sido considerado Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, fez um concerto com os Amigos do Independente. “Resultou. A partir daí, sou convidada para projectos semelhantes. Os concertos que tenho agendados até ao fim do ano são quase todos deste tipo.”
Gosta muito, mas diz que sente uma grande responsabilidade: “Há que ter muita sensibilidade para nos adaptarmos ao trabalho de quem convidamos para estar no palco connosco.” O melhor de tudo, diz, “são os laços e as amizades que se criam”.
Também lhe agrada o impulso que estes concertos dão aos grupos convidados: “Muitas vezes sentem-se esquecidos e assim ganham um novo fôlego e um maior ânimo para continuar.” E há sempre muito público: “As comunidades envolvem-se e ficam orgulhosas de ter espectáculos desta natureza na sua terra.” Em casa, portanto.
No domingo (19h), último dia do festival, o Fórum Municipal Luísa Todi recebe a solista de jazz Maria João, acompanhada pela Ensemble Juvenil de Setúbal (um projecto de inclusão de jovens com necessidades especiais), dirigidos por Rui Borges Maia, no concerto Tudo Começa em Casa. Vão interpretar obras novas encomendadas a Eloise Gynn (Reino Unido) e Sara Ross (Portugal).
Musicoterapia para pessoas especiais
Novidade na edição deste ano é a realização de um simpósio internacional (dia 28 de Maio) com o tema “Música, Saúde e Bem-estar”, no Instituto Politécnico de Setúbal. Aí haverá uma reflexão, seguida de discussão sobre Musicoterapia — Educação Musical para pessoas com necessidades especiais.
Está prevista a criação de um centro de musicoterapia, saúde e bem-estar em Setúbal, “para estudar ao mais alto nível o que tem sido feito nesta matéria no âmbito do festival”, disse António Laertes, realçando o trabalho continuado da orquestra Ensemble Juvenil de Setúbal nesse domínio.
O festival é financiado pela Câmara Municipal de Setúbal, The Helen Hamlyn Trust, Fundação Calouste Gulbenkian e Caetano Sport. Nos anos anteriores, os temas foram: a natureza de Setúbal (2011); visitantes e imigrantes (2012); comunicação (2013); mar (2014); clima (2015), sal (2016) e migrações (2017).