A política de “abutre” de Marine Le Pen

Foi assim a atitude política de Marine Le Pen perante a dor das famílias enlutadas em Toulouse, apressando-se a dizer que “o risco fundamentalista foi subestimado” em França. Nada de condolências às famílias

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A senhora chama-se Marine Le Pen e sucedeu ao seu pai, Jean-Marie Le Pen, como presidente da Frente Nacional, partido da extrema-direita francesa. Se o pai já tinha habituado o mundo às suas ideias muito particulares sobre temas como leis da imigração, eutanásia, aborto ou restauração da pena de morte, Marine Le Pen não lhe quer ficar atrás. Há cerca de 30 anos, François Mitterand aboliu esta lei medieval e hoje apenas a Bielorrússia mantém, na Europa, a pena de morte. Marine Le Pen quer colocar a França neste patamar.

Os atentados cometidos em Toulouse (França), alegadamente, por um francês de origem argelina, Mohamed Merah, contra dois pára-quedistas franceses e quatro outras pessoas (três delas crianças), em frente a uma escola judia, deram oportunidade aos abutres políticos de mostrar que voam alto, mas estão sempre alerta. De atalaia para que, mal tombe o primeiro corpo, desçam em voo picado a reclamar o seu quinhão.

Foi assim a atitude política de Marine Le Pen perante a dor das famílias enlutadas, apressando-se a dizer que “o risco fundamentalista foi subestimado” em França. Nada de condolências às famílias, campanha presidencial suspensa apenas por pouco mais de 24 horas e toca de pegar no megafone para exaltar os fantasmas do terrorismo islâmico e, bem assim, de propor medidas severas contra a imigração. Como se a França não tivesse sido construída e reconstruída ao longo das últimas décadas à força do trabalho de tantos estrangeiros que procuram, naquele país, uma vida melhor. E para melhor demonstrar as suas ideias, Marine Le Pen propõe-se “ressuscitar” a pena de morte.

Este jogo de medos, esta manipulação do sentimento de insegurança dos cidadãos, esta demagogia e aproveitamento face à perda de vidas humanas mais não é do que olhar o problema do extremismo islâmico a partir de um outro extremo. Ambos condenáveis, ambos merecedores de reflexão e de acções concretas.

Não se pode simplesmente fechar fronteiras e apertar o cerco policial aos “les Arabes”. Como se viu pelo exemplo de Mohamed Merah, auto-intitulado “mujahedin” (guerreiro) da Al-Qaeda, este foi detido pela polícia do Afeganistão, entregue aos militares norte-americanos e deportado para França. Mas escapou sempre à prisão, gabando-se de atravessar fronteiras de países sob vigilância sem a ajuda de “facilitadores”. Com um cadastro de violência de longa data (foi condenado 15 vezes), Merah, de 23 anos, justificou os assassinatos pela vontade de vingar a morte das crianças palestinianas às mãos das forças militares estrangeiras. O primeiro-ministro da Palestina, Salam Fayyad, reagiu de pronto e bem: “Já é tempo de estes criminosos deixarem de reivindicar os seus actos criminosos em nome da Palestina e de fingirem que defendem a causa das suas crianças.” O bom senso imperou.

Portanto, não se trata aqui de subestimar o “risco fundamentalista”. Trata-se, isso sim, de apertar a malha de segurança a TODOS aqueles que atentem contra os Direitos Humanos, qualquer que seja a sua nacionalidade ou credo. Fazer política à espera que haja cadáveres é deplorável e abona pouco a favor do carácter de quem se candidata a dirigente máximo do país da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Homens como Helmut Kohl, François Mitterrand ou Robert Schumann devem andar às voltas.

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