Surto do Ébola na República Democrática do Congo já chegou a uma cidade
Peritos da OMS reúnem-se amanhã, sexta-feira, para decidir se o surto é declarado como “emergência de saúde pública de âmbito internacional”. Até agora, morreram 23 pessoas.
O surto do Ébola na República Democrática do Congo entrou numa “nova fase” depois de um caso de infecção por este vírus letal ter sido detectado na cidade de Mbandaka, no Noroeste do país, onde vive um milhão de pessoas – informou esta quinta-feira o ministro da Saúde congolês, Oly Ilunga Kalenga. Por esta razão, a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocou uma reunião do Comité de Emergência para esta sexta-feira, 18 de Maio, para analisar os riscos internacionais deste surto, acaba de anunciar o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.
O comité de peritos da OMS vai decidir se declara este surto como “emergência de saúde pública de âmbito internacional”, o que desencadearia um maior envolvimento internacional, mobilizando mais investigação e recursos.
Até agora, as 23 mortes atribuídas a este surto do vírus do Ébola na República Democrática, divulgado a 8 de Maio, ocorreram em áreas mais isoladas, o que daria às autoridades mais possibilidades de conter o vírus. O anúncio do primeiro caso urbano baixa essas hipóteses.
A OMS, que na quarta-feira fez chegar o primeiro lote de vacinas experimentais a este país da África central, já manifestou a sua preocupação em relação à chegada da doença a Mbandaka, o que torna o surto muito mais difícil de combater.
A juntar às preocupações está o facto de esta cidade se localizar nas margens do rio Congo, uma das vias principais para comércio e transporte até à capital, Kinshasa. A República do Congo fica do outro lado do rio.
“Estamos a entrar numa nova fase do surto do Ébola, que neste momento está a afectar três zonas sanitárias, incluindo uma zona sanitária urbana”, disse o ministro da Saúde do país numa declaração, acrescentando que as autoridades vão intensificar o controlo da população que se desloque para fora da cidade por via aérea, rio e estrada. “Desde o anúncio do alerta em Mbandaka, os nossos epidemiologistas estão a trabalhar no terreno para identificar quem esteve em contacto com casos suspeitos.”
É a nona vez que um surto de Ébola é registado na República Democrática do Congo (ex-Zaire) desde o primeiro aparecimento conhecido da doença perto do rio Ébola, no Nordeste do país, nos anos 70. O vírus do Ébola é muito temido por causa das hemorragias internas e externas provocadas por danos nos vasos sanguíneos, pelo que esta infecção é uma febre hemorrágica, cuja taxa de mortalidade variou, nos surtos anteriores, entre os 25% e os 90%.
Vacinação começa para a semana
O primeiro lote de 4000 vacinas contra o Ébola enviado pela OMS na quarta-feira já chegou a Kinshasa. E, segundo o ministro da Saúde congolês, a vacinação começará no início da próxima semana. É a primeira vez que esta vacina vai ser usada desde que foi desenvolvida há dois anos pela empresa farmacêutica Merck.
A vacina ainda não está aprovada, mas mostrou ser eficaz em pequenos ensaios clínicos que decorreram na África ocidental durante o maior surto de Ébola até agora, que matou 11.300 pessoas na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa entre 2014 e 2016.
O número de casos suspeitos, prováveis e confirmados de Ébola ascendia esta quinta-feira a 44, com 23 mortes atribuídas ao vírus. Peter Salama, director-adjunto para a prontidão e resposta a emergências da OMS, já garantiu que outro lote de 4000 vacinas deverá chegar em breve ao país.
As vacinas estão reservadas para pessoas suspeitas de terem estado em contacto com a doença, bem como para os profissionais de saúde. O seu armazenamento requer temperaturas entre os 60 e os 80 graus Celsius negativos, o que é complicado num país onde a electricidade é incerta.
Até agora, os profissionais de saúde registaram casos suspeitos, prováveis e confirmados de Ébola em três zonas sanitárias da província do Equador, cuja capital é a cidade de Mbandaka, e já identificaram 432 pessoas que poderão ter estado em contacto com a doença, segundo informou a OMS. O anúncio deste novo surto foi na semana passada, a 8 de Maio, e a povoação de Bikoro, na província do Equador, a sul de Mbandaka, foi o epicentro.
“Estamos agora a seguir o rasto de mais de 4000 contactos dos doentes e que estão espalhados por toda esta região do Noroeste do Congo. Têm de ser seguidos e a única maneira de chegar até eles é de motociclo”, acrescentou Peter Salama.
Entre os materiais enviados para a República Democrática do Congo incluem-se ainda mais de 300 sacos destinados aos mortos, para que os enterros possam ser feitos em segurança nas comunidades afectadas.