Seia e Covilhã dizem não conseguir cumprir prazo de limpeza de terrenos

Falta de recursos humanos e financeiros faz com que trabalhos não estejam concluídos até 31 de Maio.

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Falta de recursos humanos e financeiros faz com que trabalhos não terminem até 31 de Maio

A limpeza de terrenos já começou, mas dificilmente estará concluída até à data estabelecida pelo governo. A avaliação é das câmaras municipais de Seia e Covilhã, dois dos concelhos com várias freguesias apontadas como prioritários no mapa de fiscalização da gestão combustível publicado pelo governo no início de Fevereiro deste ano.

O diploma que regula as faixas de gestão de combustíveis até começou por prever uma data mais apertada (15 de Março), mas o prazo acabou por ser prolongado até dia 31 de Maio. O coordenador do serviço de Protecção Civil de Seia, Artur Costa explica ao PÚBLICO que a autarquia “não tem capacidade de executar as faixas todas no tempo limite”, uma vez que “quase 90% da área [município] é ocupada por espaços florestais”. Isto apesar da aquisição recente de dois tractores e mais equipamentos de corte para fazer frente a essa tarefa.

“Partilhamos profundamente essa ideia”, reforça o vereador com o pelouro das florestas do concelho vizinho da Covilhã, Serra dos Reis. O responsável explica que, apesar dos esforços da autarquia, que distribuiu esse trabalho por equipas municipais, sapadores e entidades privadas, o prazo de 31 de Maio não deverá ser cumprido. O plano foi desenhado até 30 de Junho. Porquê? “Tem a ver com a área, mas também com os recursos disponíveis, humanos e financeiros”.

Serra dos Reis alerta que a linha de crédito prevista pelo Governo “pode ser pouco significante” para as câmaras municipais. A prioridade da Covilhã está na limpeza das faixas de combustíveis da rede de estradas municipais. Depois dessa fase, explica, a atenção vira-se para os aglomerados urbanos e habitações isoladas. O vereador estima que 50% das 21 freguesias da Covilhã já estejam a executar os trabalhos de limpeza nas estradas. A mesma percentagem aplicava-se ao trabalho de privados em volta das casas no início de Maio, diz, referindo um levantamento realizado pelas freguesias.

O presidente da Federação Nacional das Associações de Proprietários Florestais, Vasco Campos, refere as medidas preventivas estão a chegar ao terreno. E isso está a acontecer “muito mais do que é habitual”, em parte como “reacção à tragédia do ano passado”. No entanto, aponta, o problema dos incêndios só será resolvido com a “continuidade no tempo” de políticas florestais, algo que não se tem verificado, aponta.

Tanto Seia como Covilhã têm várias freguesias consideradas prioritárias para a fiscalização de combustível. A freguesia de Loriga, no Sul de Seia, é uma delas. É lá que encontramos José Lages e José Moura, à conversa num banco público. Para além do primeiro nome partilham a idade e ver o fogo chegar perto da vila não é uma novidade nos 71 anos que levam. O mais perto foi em 2013, quando chegou ao cume de uma das montanhas que circundam Loriga.

Já o incêndio de 15 de Outubro, lembram, não atingiu a localidade por sorte. “Se não chovesse durante a noite, tinha chegado aqui”, recorda Moura, que faz cinco anos que trocou o bulício de Sacavém pela calma de Loriga. Lages conta que agora “há muitas casas a fazer a limpeza à volta, pelo sim pelo não”. Para já são maioritariamente privados.

O comandante dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, Fernando Lucas, afirma que a corporação recebeu mais um veículo de combate a incêndios e conta com mais uma equipa logística de apoio. Questionado sobre eventuais trabalhos de prevenção, o comandante Lucas fala antes em acção: “temos apagados fogos desde Janeiro”. A maioria tem origem em queimadas, que ainda são um hábito da população, mas não têm assumido ainda proporções “alarmantes”. “Esperamos que o Verão traga mais algum sossego que o do ano passado”, conclui.

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