A ARCOLisboa cresceu e agora tem um cheirinho de arquitectura

Com a feira de arte contemporânea a passar de 58 para 72 galerias, foi preciso alguma ginástica no espaço da Cordoaria. Uma das novidades é um pavilhão efémero construído por um atelier de jovens arquitectos.

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Uma imagem do restaurante no pátio poente dr

Na ARCOLisboa não haverá nenhum frisson e acusações de censura como aconteceu com uma obra de Santiago Sierra na Galeria Helga de Alvear, em Fevereiro na ARCOMadrid. A histórica galeria espanhola, que pela primeira vez participa na feira de arte contemporânea de Lisboa — é uma das novidades desta terceira edição a inaugurar a 17 de Maio —, não trará trabalhos do artista que agitou Madrid com uma instalação composta por retratos de vários independentistas catalães classificados como presos políticos. Helga de Alvear vai ter no seu stand obras dos portugueses Helena Almeida e José Pedro Croft, com quem trabalha há anos, bem como dos espanhóis Ángela de la Cruz e Prudencio Irazabal, ou ainda do norte-americano James Casebere ou do canadiano Marcel Dzama.

Como nos conta esta quarta-feira Alberto Gallardo, o director da galeria espanhola, numa conversa telefónica a partir de Madrid, Helga de Alvear não podia deixar de estar em Lisboa depois de uma sugestão de Carlos Urroz, o director de ambas as feiras. “No ano passado não pudemos ir, mas este ano estaremos em Lisboa. Temos boas expectativas, porque as pessoas que participaram mostraram-se muito contentes e o público também.”

Horas antes, numa conferência de imprensa em Lisboa, Carlos Urroz usou exactamente o exemplo de Helga de Alvear para falar das “novidades da feira” no programa geral, aquele que ocupa a nave central da Cordoaria Nacional com cerca de 50 galerias: “Aqui estão a Helga de Alvear, a Krinzinger, de Viena, a Greengrassi, de Londres, que é uma galeria óptima, a Millan, de São Paulo, galerias que serão interessantes para os coleccionadores, mas também para os curadores.”

Mas a grande novidade da feira é um espaço de 800 metros quadrados dedicado a projectos especiais, onde dez galerias mostram a obra de um só artista em stands com 24 metros quadrados. “O espaço do Torreão Poente, onde antes estava o restaurante, vai acolher dez projectos de artistas”, explica ao PÚBLICO Carlos Urroz.

É uma espécie de “Solos”, um programa que a feira de Madrid teve até 2015 dedicado a artistas latino-americanos, e que é comum em várias feiras de arte. “Tem artistas muito conhecidos, como [Stephan] Balkenhol ou Esther Ferrer, que teve agora uma grande exposição no Museu Rainha Sofia, mas também artistas portugueses como Fernanda Fragateiro, que ganhou o Prémio Catalina d’Anglade, com um trabalho que não foi mostrado em Portugal.” Neste programa especial o director cita também a galeria Underdogs, que vai exibir o trabalho de Miguel Januário, mais conhecido pela sigla ±MAISMENOS±, num espaço que contará ainda com trabalhos de Mónica de Miranda, Nacho Martín Silva, Nuno-Nunes Ferreira, Sandra Gamarra, Selma Parlour e José Carlos Martinat.

“Fizemos este espaço para os projectos especiais. Queríamos ter mais conteúdos artísticos, ter mais espaço para arte, mas não acrescentar mais galerias ao programa principal, para que a feira não fique aborrecida. Por outro lado, há galerias que querem vir com só um artista.” Aqui, acrescenta Carlos Urroz, as condições para alugar o espaço também são diferentes, “custa metade do programa principal”. Tal como no ano passado, numa secção feita a pensar nas galerias mais novas, repete-se o espaço Opening, com 12 galerias escolhidas pelo curador português João Laia, cujo sucesso, sublinha o director, se mede pelo número de galerias que quiseram repetir a presença em Lisboa – metade delas.

Como os projectos individuais dos artistas a ocuparem o Torreão Poente, a ARCOLisboa pediu à Trienal de Arquitectura de Lisboa para arranjar uma solução para o espaço de restauração efémero a construir no pátio poente. O arquitecto José Mateus, presidente da Trienal de Arquitectura, explica ao PÚBLICO que convidaram quatro ateliers com arquitectos com menos de 40 anos a apresentar propostas. “Pedimos uma peça questionadora do ponto vista espacial daquele pátio e uma coisa que fosse de rápida execução.” Os vencedores foram os arquitectos João Quintela e Tim Simon com uma estrutura em aço, pavimento em madeira e uma cobertura em tela. E parte da estrutura sobe a uma altura que a torna visível do exterior da Cordoaria.

As 25 obras da câmara

Pela primeira vez a conferência de imprensa de apresentação da ARCOLisboa teve lugar nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa, no majestoso Salão Nobre. Na terceira edição, como explicou Fernando Medina, a colaboração entre a organização da ARCO e Lisboa já tem um protocolo — o acordo assinado em Madrid em Fevereiro contabiliza um apoio de 180 mil euros anuais —, que prevê ainda a realização de mais duas feiras, ou seja, até 2020. “Já crescemos juntos. Vejo aqui rostos mais tranquilos do que há dois anos. Esta é uma edição de expansão.”

Fernando Medina vê neste momento em Lisboa uma dinâmica em relação à arte contemporânea que não é separável da feira. “Há um reconhecimento crescente de Lisboa enquanto espaço de produção e exposição, com mais galerias, mais artistas e mais clientes.” No Torreão Nascente, vai ser possível ver uma exposição, com curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro, com as 25 obras que a câmara já comprou nas duas edições anteriores da ARCOLisboa.

A galerista Cristina Guerra, que faz parte do comité de selecção, espera que o interesse que a Câmara de Lisboa tem mostrado pela arte contemporânea se estenda: “Espero que o Governo comece a olhar para estas coisas e que o Orçamento de Estado para a Cultura cresça. Apelo ao Governo para começar a olhar para os museus.” A galerista que mais cedo apostou numa constante internacionalização dos artistas portugueses considera que não há dinheiro para a programação ou para as aquisições de obras de arte. “As galerias portuguesas vivem muito do coleccionismo privado, quer individual, quer institucional.”

 

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