16 de Dezembro de 2013 - Aeroporto de Lisboa
Embarco para Londres. Inicio uma viagem longa. Destino, a Casa, na pequena Ilha de Wight. Nela, tenho à chegada um pequeno quarto. Uma cama e duas prateleiras na parede. Uma janela nas águas furtadas, abertas para o exterior desconhecido. Dentro, o lar de idosos. Dezoito residentes. A casa de banho no rés-do-chão, depois de dois lances de escadas.
Quarto 13
A casa tem dezoito residentes distribuídos por dezanove quartos. Do número um ao número dezanove há um lapso: ao quarto doze segue-se o catorze. Superstições reorganizando a ordem numérica. Hiato aberto a especulações. Lugar de chegada. O deles. O nosso.
Aquele, o quarto 13, como o lugar dos residentes esquecidos. Mortos. Petrificados em toscas impressões. Álbuns de fotografias desengonçados. Atabalhoados. Somando pó no desfiar dos dias.
Este, o nosso quarto. Cuidadoras recrutadas em países estrangeiros. Falidos, que numa ganância de sobrevivência encontram nas entrelinhas do contrato assimetrias. Camadas omissas reduzindo salários. Folgas. Direitos. Mulheres esvaziadas, de dicionário na ponta dos dedos. Traduzindo esperanças. Estoicamente presas e contidas pela sombra que se nos cola aos pés. Último fio da dignidade humana — a verticalidade.