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João desceu a Av. da Liberdade em cadeira de rodas para lutar pelo seu direito à independência

A marcha deste sábado foi o culminar de uma vigília de três dias, iniciada na quarta-feira, para reivindicar um reforço do orçamento para a constituição de Centros de Apoio à Vida Independente, uma escola mais inclusiva e mais apoios.

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NUNO FOX/LUSA
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Aos 33 anos, João Rodrigues sente-se bem por estar a descer a Avenida da Liberdade porque foi pela sua liberdade, e pela de muitos outros, que neste sábado participou na marcha promovida em Lisboa pela organização Centro de Vida Independente.

João, com 95% de incapacidade e em cadeira de rodas, foi uma das mais de 100 pessoas, a maioria também em cadeiras de rodas, que desfilaram na avenida lisboeta neste sábado para chamar a atenção para os direitos das pessoas com deficiência e das suas famílias.

"Estava aqui a pensar (...) no facto de estarmos a fazer isto na Avenida de Liberdade. Isto também é uma luta pela liberdade", realçou o programador informático, que veio da Figueira da Foz acompanhado pelo pai e pelo irmão. "É curioso estarmos em 2018 e ainda estarmos a lutar pelos direitos humanos, porque é disso que estamos a falar", prosseguiu.

A marcha foi o culminar de uma vigília de três dias, iniciada na quarta-feira, que pretendeu reivindicar, entre outros, um reforço do orçamento para a constituição de Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI).

Em entrevista à agência Lusa, divulgada na sexta-feira, a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, assumiu que "sempre foi claro" que os CAVI seriam projectos-piloto e que não chegariam a todas as pessoas.

Os CAVI destinam-se a prestar assistência pessoal a pessoas com 16 ou mais anos e grau de incapacidade igual ou superior a 60% (no caso da deficiência intelectual, das perturbações do espectro do autismo e da doença mental não há limite de grau). São eles que vão determinar quantas horas de assistência pessoal disponibilizam aos seus utentes.

Por uma escola "realmente inclusiva"

Entre as outras reivindicações do protesto, segundo a organização autónoma Centro de Vida Independente, estão as acessibilidades, novas políticas de acesso a uma escola "realmente inclusiva", políticas de promoção de empregabilidade, "que não existem", apoios para as famílias, além de uma" política justa de atribuição de ajudas técnicas".

João Rodrigues, tetraplégico, não conseguiu participar nos outros dias do protesto, "porque não tinha o apoio necessário" para fazer a viagem entre a Figueira da Foz e Lisboa, mas acompanhou sempre à distância e envolveu-se "o mais possível" na iniciativa organizada pelo Centro de Vida Independente.

Neste sábado, dia em que é assinalado o Dia Europeu da Vida Independente e em que contou com a ajuda "sempre fundamental" da família, não faltou e fez questão de frisar que é a sua "estreia" em protestos. "Nunca pensei participar em marchas", confessou, salientando estar em Lisboa a lutar pelos seus direitos, mas também a representar os outros que (como ele nas outras ocasiões) não tiveram possibilidade de estar presentes.

Ao longo do percurso da marcha, a conversa com João foi por vezes interrompida por palavras de ordem como "Temos que lutar para não viver num lar", "Assistência, trabalho e independência", "Assistência pessoal em Portugal" ou "Não somos cidadãos de segunda".