Ambientalistas pedem "atitude firme" contra exploração de urânio junto à fronteira

"É preciso que os portugueses sejam muito unidos na contestação ao projecto", diz Quercus.

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Joana Goncalves

A plataforma espanhola Stop Uranio e as associações portuguesas Quercus e Azu apelaram neste sábado ao Governo português para que assuma uma "atitude mais firme" na defesa da suspensão da mina de urânio projectada para a zona de Retortillo, Salamanca.

"Estamos juntos na contestação, esperando que o Governo português tenha uma atitude mais firme no sentido de conseguir que este projecto seja suspenso, seja realizada uma avaliação de impacto ambiental transfronteiriça, como a legislação comunitária exige", afirmou Nuno Sequeira, da Quercus.

Em declarações à Lusa, durante a Marcha Ibérica em Comboio, desde Salamanca (Espanha) até ao Porto, contra a mina de urânio, Nuno Sequeira disse "esperar que não aconteça aqui uma nova situação como aconteceu em Almaraz, em que Portugal foi claramente desrespeitado".

"É preciso que os portugueses sejam muito unidos na contestação ao projecto. A confiança que temos é que realmente o projecto possa ter um final, determinado pelo Governo espanhol, que garanta segurança relativamente àquilo que é a saúde pública, o ambiente e também as actividades económicas que aqui decorrem, e que estão muito dependentes da agricultura e do turismo, como sabemos", acrescentou.

As associações afirmam que o desenvolvimento de projectos de mineração de urânio a céu aberto do outro lado da fronteira pode representar "um tremendo risco para a vida do rio Douro e dos seus habitantes".

Referem que "apenas com o funcionamento normal das instalações projectadas para Retortillo, Salamanca (mina de urânio e fábrica de concentrados), o rio Yeltes, afluente do rio Douro, ficará extremamente contaminado, segundo um estudo encomendado pela WWF a dois cientistas da Universidade de Castilla La Mancha".

"Poeira radioactiva"

De acordo com os organizadores da Marcha Ibérica, no caso de este projecto avançar "Portugal também deverá ser impactado com a poeira radioactiva e o gás radão que serão emitidos pelas minas de urânio que a Berkeley Minera planeia abrir em Retortillo".

Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, dizem, o projecto de exploração mineira de urânio em Retortillo é "susceptível de ter efeitos ambientais significativos em Portugal", pela proximidade com a fronteira e tendo em "atenção a direcção dos ventos" de este e nordeste.

As três associações ambientalistas lamentam que "mais uma vez, e apesar de ser óbvio que Portugal sofrerá as consequências de uma potencial exploração mineira de urânio em Salamanca, as administrações espanholas" não tenham consultado o país vizinho. "Nem submeteram a consulta pública transfronteiriça os distintos projectos de mineração de urânio em Salamanca, ignorando assim os tratados assinados entre os dois países."

A organização conjunta desta Marcha Ibérica pretende, por isso, dar a conhecer à opinião pública portuguesa a problemática e os perigos que implica para Portugal a instalação de uma mina de urânio e uma fábrica de concentrado no Campo Charro de Salamanca, de modo a sensibilizar toda a sociedade.