Assim disse um taxista, representante da sua classe, ontem [10 de Outubro] no calor dos protestos em Lisboa contra as plataformas online Uber e Cabify pois, segundo o mesmo, “as leis são como as meninas virgens, são para ser violadas". Admito como, durante alguns segundos, fiquei sem saber se o repórter estava a entrevistar o Trump, se um taxista. Não, era mesmo um taxista.
Bem, e agora pergunto-me o que pensam as filhas deste senhor, a mulher deste senhor ou a mãe do respectivo perante tais declarações? Como é possível a uma mulher entrar agora num táxi num país onde os taxistas assumem diante das câmaras de televisão instintos tão predatórios como criminosos, para os quais a prisão preventiva é o mínimo exigido?
Infelizmente, não consigo deixar de expressar a minha profunda preocupação quando um violador confesso se assume como arauto de um protesto cujo fim está bem à vista diante de tais comentários. Afinal, se queres ter a razão do teu lado, não dês armas aos teus inimigos.
Porque pelo pecador pagam os justos, e entretanto já as redes sociais estão cheias de histórias sobre taxistas que levam clientes para a serra de Sintra contra a vontade das mesmas e depois é o que se vê, passando pela mais comummente “tour” de Lisboa e seus monumentos mesmo que o cliente não o deseje, classificando toda uma classe como mal formada, ao mesmo tempo suscitando uma enorme onda de apoio às plataformas online vítimas de protestos que, a passos largos, perdem apoio e razão de ser.
No fim, os taxistas são vítimas de si próprios e da sua bestialidade, ao melhor estilo dos piratas dos livros do “Astérix”, os quais não precisavam de ninguém para se afundarem a si próprios, livro após livro.
Infelizmente, também eu não posso concordar com a Uber ou outras plataformas online de transporte de passageiros. Não porque venham retirar clientela a esta espécie em extinção denominada “Zemaneltaxistus brutus”, mas pelo que representam em termos de exploração da mão de obra. Porque não há nada de espectacular ou evolutivo quando se paga menos a um trabalhador, porque a cada bandeirada o condutor é sujeito ao escrutínio parcial do passageiro, o qual, caso dê menos de 4 estrelas no fim da viagem na “app” da Uber, condena o condutor ao mais que provável desemprego, provocando uma total inversão de papéis onde quem transporta passageiros acaba por se ver refém dos caprichos e vicissitudes da natureza humana. Porque hoje, e dependendo dos taxistas, são as meninas virgens que urge violar, amanhã, e dependendo da vontade dos passageiros, serão os condutores da Uber. Eu, se fosse mulher, não trabalharia na Uber, e como homem nada está garantido à partida.