Quando começou a pedalar mais a sério, há sete anos, Abigail Smith Santana percebeu que as opções de equipamentos femininos eram limitadas (e caras). Marcas americanas e australianas “estão fora do orçamento da maioria” das atletas e a escolha acaba por recair, invariavelmente, em peças de roupa de design e corte masculinos que não se adaptam à fisionomia feminina. Foi após ter conhecido o marido, português, que a norte-americana do Alabama se decidiu pela criação da Ela Pedala.

Triatleta do Atlético Clube de Portugal, de Alcântara, Abigail resistiu ao hábito de usar apenas calções e camisolas masculinas. “Em Portugal, o mercado é quase vazio para as meninas, mesmo estando o número de mulheres atletas a crescer diariamente”, começa por dizer, num português lento mas quase perfeito. “Queria criar alguma coisa que mostrasse a feminilidade das mulheres. A maioria de nós gosta de ter aquele sentido de orgulho feminino”, admite a atleta que treina cinco a seis dias por semana em cima da bicicleta.

Os produtos da Ela Pedala, sublinha, têm “preços acessíveis para estudantes e atletas que preferem pagar mais por outras coisas”, como a manutenção das bicicletas. O projecto, lançado oficialmente em Junho, tem por logótipo um coração de Viana — como aquele que Abigail recebeu do marido quando se mudou para Portugal — “com uma roda de bicla dentro”. Todas as peças de roupa foram desenhadas pela jovem de 25 anos e fabricadas pela Cofides, uma empresa de Vila Nova de Gaia.

A Ela Pedala é uma marca exclusivamente online, para já apenas a partir do Facebook, apesar de ter amostras em algumas lojas de Loures e de Lisboa. À venda existem camisolas e calções com costas próprios para quem pratica triatlo, além de manguitos para proteger do sol e tops para “crosstraining”. Os preços começam nos 15 euros (manguitos) e podem chegar aos 90 euros (conjunto de camisolas e calções).

As cores e os padrões das peças de roupa são uma das diferenças face aos equipamentos masculinos, bem como o comprimento dos calções. “A maioria dos calções masculinos são quase até aos joelhos e costumamos enrolá-los para não ter linhas nas pernas”, explica a também professora de inglês e mestranda em gestão de cultura e belas artes. “Temos a nossa própria identidade e queremos manter a silhueta feminina”, resume.

Abigail conheceu o actual marido em Washington, onde ambos frequentavam a Universidade de Georgetown. Já praticava triatlo mas de uma forma mais amadora; quando se mudou para Portugal começou a dedicar-se mais à modalidade e há um ano que compete em distância longa.

Apesar de muito recente, a Ela Pedala já é representada por várias atletas portuguesas com títulos nacionais e internacionais: Tuxa Negri, Sheila Marques, Sofia Brites, Andreia Ferrum e Ana Filipa Santos. Contudo, Abigail ressalva: “A nossa marca não é só para meninas que pedalam há muitos anos mas também para iniciantes ou para quem gosta de treinar no ginásio.” O mote é simples: “pedalar com estilo”.