UPPA - União Para a Protecção dos Animais
No nosso Inquérito de Estimação, damos palco a associações e grupos de ajuda de animais que o mundo deve conhecer. A UPPA, quase a completar uma década de voluntariado pelos animais, contou-nos um pouco da sua história
Concretizaram em 2013 um sonho antigo. Abriram o albergue da UPPA, em Sintra, e assim ganharam mais condições para fazer aquilo que sempre fizeram: ajudar animais. A associação nasceu no final de 2007, como desígnio comum de um conjunto de pessoas que já se dedicavam à causa mas queriam fazer mais por ela.
Graças aos 30 voluntários, têm ajudado centenas de animais, mas anseiam por uma política séria de esterilização e também pelo fim dos canis de abate, que está próximo. Sandra Vicente, da direcção, abriu as portas à história desta associação e deixou algumas ideias.
Uma medida prioritária pelos direitos dos animais
Terminar com o abate em todos os canis municipais e instituir uma política de esterilização.
Um caso marcante
A do Polar, um animal que salvámos. Diz o provérbio que “o que os olhos não vêem o coração não sente”. Mas diz errado. Apercebemo-nos disso quando recentemente conhecemos o Polar, um cão jovem, lindíssimo, que na rua não passa despercebido. Um cão que muitos olhos viram sem que o coração sentisse. Como era possível desviar o olhar ou “tapar” o coração? Naquele dia, os nossos olhos viram e os corações sentiram tristeza, angústia, dor. Sentiram a dor daquele cão que sofria como nenhum outro mas cujas mazelas da alma eram superiores às do corpo. Fugia de nós com um medo aflitivo e uma rapidez quase que impossível para um cão coxo com uma ferida aberta na pata que ia deixando um rasto de sangue e de sofrimento. Já o teriam magoado tantas vezes, porque havia ele de perceber que o queríamos ajudar? Nós, os daquela “raça” que magoa e maltrata, que olha e ignora, que se diz humana mas não sente remorsos. Apesar de ferido, apesar de dorido, o Polar corria, queria sofrer em paz e bem longe dessa espécie de olhos que nunca tiveram um coração que sentisse. Mas há olhares que nunca mais se esquecem e o do Polar foi um deles.
A UPPA nunca desiste. Sim, temos a lotação esgotada, passamos por dificuldades, temos milhares de despesas veterinárias pendentes. Mas temos acima de tudo olhos que vêem e corações que sentem e, nesta ânsia desmedida de ajudar o Polar, lá fomos nós dias depois apanhá-lo. Não foi fácil, mas era um “agora ou nunca” onde a palavra desistir não era opção. Já no carro, completamente em pânico, segredamos-lhe ao ouvido que nem todos os desta “raça” de dois pés são iguais. Pedimos-lhe que não tivesse medo, que nos desse uma oportunidade e voámos para uma clínica para acabar com as suas dores. O Polar foi levado de imediato para dentro. A primeira etapa desta missão estava cumprida, mas longe de terminar. Os olhos são o espelho da ALMA e mesmo que seja possível curar as feridas físicas, as da alma custam a sarar. Sabemos agora que o Polar é coxo e será para sempre. Não há operação que concerte o que um dia alguém magoou. É coxo não porque tinha aquela ferida aberta a massacrar-lhe a pata, mas porque um dia a sua bacia foi partida tendo este cão corajoso sofrido e sobrevivido sozinho. Sabemos agora que a ferida que tem ou que lhe fizeram na pata causou uma infeção terrível no osso e que só o tempo ditará o rumo da sua recuperação. O Polar está internado há quase dois meses, com um longo caminho pela frente. O medo tremendo dos humanos transformou-se em amor e gratidão. O caminho é longo mas o Polar é valente.? E assim começa a história de mais um sobrevivente a quem chamámos Polar porque debaixo daquele pêlo tingido de terra e sangue está um branco puro como a neve, porque debaixo daquele medo aflitivo está um cão com força coragem de urso, porque debaixo daqueles olhos sofridos está o brilho da estrela mais bela que vamos voltar a iluminar.
Um conselho para quem quer adoptar um animal
Adoptar é um acto de amor para a vida, até que a morte os separe. Quem não pensar assim por favor não adopte um animal à UPPA nem a ninguém.
Um projecto que tem que ser conhecido
O Refúgio Animalangels, sem dúvida um projecto que tem de ser conhecido, a história de um anjo chamado Mário Ferreira que dedica a sua vida aos animais. Perto de 400 vidas estão à sua responsabilidade e aos seus cuidados.
Uma pessoa anónima que vale a pena conhecer
É um pouco difícil indicar apenas uma pessoa, pois a associação existe porque tem uma equipa fantástica, que conta com perto de 30 voluntários, que se dedicam de corpo, alma e coração, todos os dias, a esta missão. Mas vamos falar da Sónia Guerreiro. Conhecemo-la em 2013 porque apadrinhou uma das nossas cadelas, e rapidamente passou de madrinha a voluntária. Como nesse ano mudámos para um espaço nosso, o albergue UPPA, todos os domingos, fizesse chuva ou sol, durante um ano, dedicava o único dia que tinha livre para exercer as funções de tratadora, cuidando dos cães e do albergue durante oito horas. Quando a Sónia chegou à UPPA disse que queria ser madrinha e voluntária porque não tinha vida para ter cão. Mas o seu amor por estes seres especiais era tão grande que rapidamente se apaixonou por um, o querido Prince, um cão já com alguma idade, com alguns problemas de saúde e com uma companheira inseparável, a Lucy. Então, a Sónia mudou a sua vida e não adoptou só o Prince, mas também a Lucy. Era impensável separá-los. O Prince, o primeiro amor da Sónia, faleceu cerca de um ano depois de ser adoptado, mas tenho a certeza que aquele ano valeu por todos os outros: foi muito amado e teve todos os cuidados que precisava até ao fim; a Lucy continua a ser a menina da Sónia, também já não é jovem mas cremos que ainda terá vários anos pela frente. Ainda a recuperar da morte do Prince, a Sónia conheceu o Rocky, um cão enorme que acolhemos e que o dono queria abater. O Rocky, além de vários problemas de saúde, não tinha pelo. Mais uma vez, a Sónia, com o seu coração de ouro, agarrou-se ao Rocky e levou-o para casa para cuidar dele. O Rocky tinha uma doença conhecida como “megaesófago”, o que o fazia vomitar e engasgar-se. A Sónia foi amiga e enfermeira durante o tempo que este gigante conseguiu lutar contra a doença. Acabou também por falecer, uns meses depois, mas o tempo que esteve com ela foi sem dúvida o melhor da sua vida.