“O cyberbullying deve ser tratado como o que realmente é: violência”

Investigadora alerta para os perigos da partilha de informação na internet: 11% dos universitários assumem ter sido vítimas

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Manuel Roberto

Caso de vídeo sexual divulgado, roubo de contas, insultos e tortura psicológica, criação de contas falsas (entre elas “um blog para gozar”) e divulgação não autorizada de dados pessoais e imagens. O que têm em comum estes casos? Todos se passaram na Internet. Todos atingiram estudantes universitários. Foram todos apelidados de "cyberbullying".

Luzia de Oliveira Pinheiro estudou durante seis anos este tema, a intimidação e a perseguição na internet ("cyberbullying" e "cyberstalking"), até terminar a tese de doutoramento na Universidade do Minho. Resultado: 11% dos estudantes universitários afirma terem sido vítimas de "cyberbullying". Vítimas de insulto, difamação, intimidação, ameaça ou perseguição intencional e sistemática na Internet.

Estas conclusões resultam de 193 inquéritos digitais a jovens das Universidades do Minho e da Beira Interior, entre Janeiro e Março de 2013 e integram a tese de doutoramento "Cyberbullying e Cyberstalking" de Luzia de Oliveira Pinheiro, homologada há duas semanas.

Porém, a autora do estudo adverte: os dados não podem ser generalizados. A amostra permite tirar conclusões, mas nunca generalizar os resultados para um universo de portugueses com acesso à Internet em casa que supera os 70%.

Entre aqueles questionados em inquéritos digitais, outros 11% pensam que talvez já tenham sido vítima deste tipo de bullying. Um crime de intimidação, encarado por muitos como uma moda do século XXI, que Luzia de Oliveira Pinheiro se recusa a desvalorizar. “O 'cyberbullying' deve deixar de ser visto como um tabu social para que possa ser tratado como o que realmente é: violência.”

A autora reconhece que a Internet desinibe comportamentos, “leva à publicação por impulso, pouco ou nada ponderada”. Enquanto vítimas, os inquiridos admitiram ter vergonha, tanto de terem sido alvo de "cyberbullying", como pelo conteúdo partilhado sobre eles. Os próprios acreditam serem pessoas desprevenidas e inconscientes, que desvalorizavam o perigo das relações online e que se expuseram demasiado.

E porquê? Para a autora do estudo, algumas das pessoas “agiram propositadamente para se sentirem famosas”. O desejo de reconhecimento e a reputação assumem uma importância extrema nestes meios, numa fase da vida marcada pela consolidação das relações entre amigos e pela preocupação com a entrada no mercado de trabalho. Outras terão sido vítimas por descuido.

A velocidade a que a informação circula na rede pode abalar de forma extrema a reputação. É um ambiente em que “tudo que entra na Internet, fica na Internet” e em que não há espaço nem tempo para deletes. “Na internet qualquer boato, qualquer conteúdo se espalha em segundos. As imagens e os vídeos, de um momento para o outro, todos podem ver. A reputação é incrivelmente abalada, perdida”, explica a autora.

o artigo completo no Público

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