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Contra o "bullying", lutar, lutar

Academia de artes marciais em Lisboa quer formar pequenos Bruce Lee para acabar com violência nas escolas. A continuidade do treino depende das boas notas na escola e o uso indevido das técnicas fora do treino resulta em expulsão

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Stringer/Reuters

E se um miúdo habituado a levar tareia dos colegas de escola se saísse com um golpe à Bruce Lee? Uma academia de artes marciais de Lisboa propõe ensinar técnicas de luta para acabar com o “bullying” nos recreios.

Luís Barneto, instrutor de artes marciais da academia Jeet Kune Do, afirmou à agência Lusa que a técnica de Artes Marciais Mistas (MMA ou Mixed Martial Arts) pode ser a maneira de uma criança habitualmente vitimizada aprender a ser “firme” e deixar de apanhar tareia.

A sua academia, a JKD Unlimited, tem inscrições abertas para duas classes de MMA para miúdos em Lisboa e uma outra no Barreiro, à espera de crianças entre os sete e os doze anos, orientadas para combater o "bullying", ou violência reiterada em meio escolar.

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Lucy Nicholson/Reuters

Apesar de reconhecer que a técnica, quando usada por adultos na vertente competitiva, pode ser “vista como violenta”, Luís Barneto garante que ensinada a miúdos, “com muita brincadeira” à mistura, pode ter efeitos sérios quer nos que são agressivos quer nos que costumam ser as vítimas.

Para os que são habitualmente vítimas de bullying, o processo de aprender MMA passa por “tentar lutar e não estar só a apanhar umas técnicas que talvez ajudem a fugir ou escapar das coisas”. “Tornam-se lutadoras contra as adversidades da vida e isso inclui o bullying, que às vezes nem é uma questão física, é emocional”, argumentou, frisando que “até os adultos são às vezes vítimas de bullying”.

Aos pais que se preocupem com a perspectiva de os filhos aprenderem uma técnica de luta cujo nível de agressividade podem ter visto nas transmissões do Ultimate Fighting Championship na televisão portuguesa, Luís Barneto tem resposta pronta. “A violência existe e vai existir sempre. Se a entendermos, conseguimos, no ambiente controlado do treino, treiná-la e trabalhá-la”, afirmou.

A “mais valia” aplica-se tanto aos miúdos que habitualmente apanham (“ficam preparados para se defenderem”) como aos que possam ter demasiada agressividade, que “vão por o confronto físico como última opção e, se o usarem, fá-lo-ão de forma muito mais sábia”.

O lugar do fraco

André Gouveia, de 18 anos, pratica MMA há dois e conhece bem o lugar do “fraco” num confronto. “Na minha antiga escola, era tudo muito hierarquizado: havia vários grupos de miúdos e os que achavam que eram maus, que dominavam a escola e se metiam com os que andavam sozinhos ou achavam que eram mais fracos”, contou. Do 5º ao 9º ano, André “era uma das vítimas” porque “era muito tímido e inseguro e normalmente andava sozinho”.

Vendo como salta, dá murros e se esquiva a golpes ligeiros dos colegas no treino, vê-se que em dois anos, alguma coisa mudou. “Isto aqui não é para conversar sobre chá, é para andar à tareia”, afirma sorridente, admitindo que pensa “muitas vezes” em como teriam sido os seus anos de escola secundária se já tivesse aprendido as lições do treino.

O agora estudante universitário de Línguas e Literatura não tem dúvidas de que “teria feito toda a diferença” saber as técnicas que aprendeu, em primeiro lugar porque “sairia menos magoado” das refregas. Luís Barneto garante que a academia tem uma atitude responsável em relação aos miúdos: a continuidade do treino depende de terem boas notas e qualquer uso indevido das técnicas de luta fora do treino resulta em expulsão.

O que promete são melhorias físicas pela exigência do treino e sobretudo, interiores, através de “conquistas pessoais que os miúdos vão tendo e que lhes vai dando confiança e auto-estima”. “É inevitável tornar-se melhor. E quem amanhã for melhor do que é hoje já está a ganhar, a vencer”, resumiu.