Mãos à obra

E a verdade é que o desconhecido é onde todas as conquistas relevantes são alcançadas e onde o auto-orgulho nos é entregue como troféu

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Julian Svoboda/Unsplash

O ser humano tende a prender-se ao conforto da estabilidade daquilo que lhe foi posto à frente — com ou sem esforço — independentemente da sua mediocridade consciente. Conformamo-nos com aquilo que temos, porque achamos que não conseguimos/merecemos melhor ou, pior ainda, porque apesar de até ambicionamos mais, as amarras da preguiça e da inércia toldam-nos pelo medo do desconhecido.

É por isso que, de vez em quando, é bom haver uma razão maior, acima de nós, que nos despoja de tudo aquilo que tomávamos por garantido, fazendo-nos apreciar, de forma crítica, a nossa situação num determinado momento. É o equilíbrio perfeito entre a preguiça e a proatividade, numa relação incontornável de causa-consequência.

Portanto, se a determinada altura deres conta de que perdeste tudo, abraça essa perda com entusiasmo, independentemente de teres perdido um familiar, o namorado, o emprego, a casa, o carro ou tudo ao mesmo tempo.

Percebe, no entanto, que isto não é uma oportunidade para recomeçar: é a vida a encarregar-se de pôr-te no caminho da mudança dado que tu já perdeste a oportunidade porque foste incompetente quando não a agarraste no(s) momento(s) em que te foi posta à frente. Está, então, na altura de fazer aquelas escolhas que achavas impensáveis; é este o momento de tomar “a” decisão. Sim, essa mesma, a que está aí latente já há demasiado tempo e que tinhas arrumado indeterminadamente num canto, porque a vantagem de já teres perdido tudo é que já não tens literalmente mais nada a perder.

Nem sequer se trata de olhar para a situação com otimismo, mas sim, acima de tudo, de pôr o derrotismo de lado, pois não vale a pena continuar a escavar: não se vai mais fundo do que o fundo do poço.

Ninguém disse que era o tempo de pôr a sensatez de lado e de tornar a loucura viral, mas talvez esteja na altura de te desprenderes dos padrões do socialmente aceitável, porque a sociedade (composta pelos outros) encosta-se ao desprendimento, à entrega superficial e à busca constante de uma simplicidade fácil que lhe permita equilibrar a vida social, a laboral e a familiar sem se dar a grandes malabarismos, por uma questão de sobrevivência. É, sim, tempo de arriscar e de dar o passo em frente, abrindo a porta fechada. Para começar a viver.

E a verdade é que o desconhecido é onde todas as conquistas relevantes são alcançadas e onde o auto-orgulho nos é entregue como troféu.

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico.

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