Sim, Jesus teve dois pais e foi um homem a valer!

As vozes de quantos professam o catolicismo parecem não estar de acordo, porque Jesus não teve dois pais e basta abrir o telejornal para perceber como não nos amamos a todos

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Sebastian Bartoschek/Flickr

Sim, Jesus teve dois pais, pelo menos de acordo com a polémica campanha do Bloco de Esquerda, a qual pretende celebrar a aprovação da lei da adopção por casais do mesmo sexo, promulgada a 19 de Fevereiro, e em silêncio (talvez por contemplação, talvez por respeito, quem sabe?), por sua excelência o ex-Presidente da República.

E sim, Jesus teve dois pais, José e Ele, o próprio, o Maior da Aldeia, o senhor Deus. E atenção, porque daqui não vem nenhuma ofensa, antes pelo contrário: uma constatação. E então? Qual é a surpresa? Porque não foi Jesus quem disse: "Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos"? Foi, não foi? Porque eu acho que foi, pelo menos de acordo com aquilo que me lembro de ler nesse livro presente às mesas-de-cabeceira de todos os quartos de hotel, não vá a tentação tentar-nos! E o que fazemos nós? Amamo-nos, tal como os dois pais de Jesus. Antes isso que a guerra na Síria e onze milhões de refugiados.

Curiosamente, as vozes de quantos professam o catolicismo parecem não estar de acordo, porque Jesus não teve dois pais e basta abrir o telejornal para perceber como não nos amamos a todos. Mais, quando aprovamos leis nesse sentido, as mesmas vozes protestantes (perdão, católicas), caem-nos em cima "like a ton of bricks", porque em Inglês faz mais sentido (ou então sou eu quem está aqui fora há tempo a mais...). E porquê? Porque de acordo com o porta-voz da Conferência Episcopal é uma "afronta".

Mas não há por aí uma alminha para explicar ao senhor porta-voz que é isto mesmo que nós queremos, agitar consciências, promover o diálogo, educar, e quanto mais o senhor porta-voz exclamar, melhor? Portanto, muito obrigado, pois agora estamos nas bocas do mundo, acredite quem quiser, porque apesar de Jesus ter dois pais não deixou de casar (blasfémia!) com a Maria Madalena, a quem a Igreja e os seus homens não se cansam de chamar prostituta, como quem cospe para o chão diante da, mais que óbvia, superioridade da mulher, sem a qual nenhum homem por aqui andaria; porque apesar de ter dois pais, Jesus não deixou de procriar (outra blasfémia! Acabem com o herege!), e nem por isso deixou de ser o homem marcante que foi (se é que Jesus alguma vez existiu [outra vez blasfémia! Atirem o herege para a fogueira, para-a-fogueira, para-a-fogueira!], e por esta altura, adivinharam, tenho a cabeça a prémio e já não posso sair à rua na Cruz de Pau, porque decerto levo com a dita nas trombas); porque no fundo desilude-nos a parca inteligência do senhor porta-voz, característica de uma educação tão austera como pouco cristã, onde o amor e a compreensão não encontram lugar mas apenas uma vontade imensa de furar todos os preservativos do mundo com um alfinete bem fininho, porque é assim que Deus quer, a bem das doenças sexualmente transmissíveis, das violações e das malformações, numa mentalidade que só encontra par na Idade Média, mais ou menos há mil anos, numa Igreja onde habitam a pedofilia e o padre Frederico, a qual nunca se escusou de apoiar regimes ditatoriais, sem esquecer o Salazarismo e a PIDE.

Por isso, ouçam-me, senhores católicos e detentores da verdade absoluta, fôssemos todos (verdadeiramente) cristãos e o mundo seria bem melhor! Os poucos que, dentro da Igreja, tentaram, de facto, sê-Lo, e segui-Lo, foram rapidamente transformados em santos e em mártires. E outra, o melhor padre que alguma vez conheci tinha uma namorada! Então e o amor? Porquê esse repúdio, esse cuspo, esse medo? Porque, no principio, no meio e no fim Jesus teve dois pais e foi um homem a valer!

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