O PS do futuro e o fantasma do PS passado
Ideologia e corrupção: o PS pode ter tentações de evitar ver-se ao espelho no congresso no final do mês mas a caixa de Pandora está definitivamente aberta.
António Costa já devia ter na cabeça o guião do congresso do PS que gostaria que fosse cumprido no final deste mês. Mas depois há a realidade que impôs ao líder e ao partido duas discussões que em muito vão definir o seu futuro. Por isso, no pavilhão da Batalha, no final do mês, as batalhas serão duas.
A primeira é a discussão sobre o rumo ideológico. Há duas semanas, num artigo de opinião que assinou aqui no Público, Augusto Santos Silva defendeu que o PS não deve “enterrar a terceira via” mas antes ser “radical” na afirmação de uma “esquerda moderada”. Hoje, Pedro Nuno Santos responde-lhe à letra, também aqui e em artigo de opinião, argumentando que “o sucesso deste Governo e desta maioria nada deve à terceira via” e que é à esquerda que o partido se deve afirmar. Atenção ao debate, porque é o regresso em força do debate ideológico ao PS. E porque também é sobre as alianças pós-legislativas (tema que Costa ignora na sua moção de estratégia) e sobre quem será o próximo líder, na era pós-António Costa.
A segunda batalha é contra o fantasma do PS passado. Tem a ver, claro, com as suspeitas de corrupção que envolvem Manuel Pinho e… José Sócrates. Durante mais de três anos, o PS conseguiu afastar-se da polémica da Operação Marquês mantendo uma distância de proteção. A António Costa parecia bastar a separação de poderes e uma frase dita depois da detenção do ex-primeiro-ministro: ele estava a lutar “pela sua verdade”. Já não basta.
Com a explosão do caso Pinho, da suspeição de que era pago pelo BES enquanto ministro e do seu aterrador silêncio sobre a notícia, a pressão tornou-se incontrolável. E obrigou o PS a confessar-se envergonhado com as suspeitas que recaem sobre os que governaram em nome do partido.
Costa, pela primeira vez, e de lá longe, do Canadá, veio dizer preto no branco que a confirmarem-se as suspeitas de corrupção no Governo de que fez parte será “uma desonra para a democracia”. O actual líder socialista tenta, com a demarcação, evitar ver-se ao espelho na opinião pública. Mas, com isso, sabe que desenterra um fantasma do passado e se expõe perante uma das grandes incógnitas do PS presente: quanto vale ainda o nome de Sócrates no aparelho - e num congresso.
Num e noutro caso, no do debate do futuro e quanto ao fantasma do passado, o congresso socialista tem aberta uma caixa de Pandora.