Olá David. Dás-me a liberdade de te tratar por “tu”?
Afinal és um guerreiro com mais meia-dúzia de anos do que eu, que teve de virar as costas à vida mesmo quando estavas cheio de vontade de vivê-la.
Devemos ter amigos em comum, apareces-me em imensas publicações nas habituais redes sociais e em todas elas existe um ponto de referência: o teu sorriso, que aparentemente, sempre foi constante.
Parece que deixaste uma familía e uma namorada que moveram mundos e montanhas até serem obrigados, por eles, a deixar-te ir. “Eles” a quem nós, contribuintes, pagamos fortunas todos os anos.
“Eles” que, muito possivelmente, no lugar de olharem para ti com todo o cuidado e dedicação de que eras merecedor, preferiram ir de fim-de-semana. Enquanto tu fazias o trabalho mais duro, que era o de lutar pela tua vida sem dar tréguas a uma desgraça que te atingiu, “Eles” deviam estar a tratar do peru e do bacalhau para mais logo.
Desistiram de ti, sem sequer tentar.
Deixaram-te partir sem tentativa de te manter por cá, onde tantos te admiravam, e onde colorias a vida de tantos outros. Por existires. Por seres tu. Por seres um lutador que não baixa as armas e não as baixou até ao último segundo.
Hemorragia cerebral era a doença, “os médicos estão de fim-de-semana” foi o diagnóstico.
Já provocaste demissões, estás a fazer mudar algumas coisas na vida de todos aqueles que cá ficaram. Agradeço-te por isso e lamento tanto que para o efeito tenhas de ter perdido a tua vida, sem “mas” nem “porquês” por parte de quem quer que seja.
É Natal, e o presente dos teus familiares foi uma ida sem volta.
Moveste montanhas por ti, só tu sabes o tamanho da dor e da aflição que passaste. Eu agora espero que a força do vento que provocaste mexa pelo menos algum moinho, para que nunca mais se perca David nenhum nas vidas de quem quer que seja.
Tinhas 29 anos, vou lembrar-me de ti como um quase trintão, forte p’ra caraças. Até já, David. Espero que agora, estejas onde estiveres, alguém “cuide de ti”, efectivamente.