Nascido em Julho de 1976, sou governado um dia pelo Pinheiro de Azevedo (VI governo provisório), três meses pelo Nobre da Costa (III governo constitucional), nove meses pelo Mota Pinto (IV governo constitucional), sete meses pela Maria de Lurdes Pintassilgo (V constitucional), um ano pelo Sá Carneiro (VI constitucional), dois anos e cinco meses pelo Pinto Balsemão (VII e VIII constitucionais) e quatro anos e meio pelo Bochechas (I, II e IX governos constitucionais)... De ti Aníbal, entre governos minoritários, governos com maioria absoluta e presidências da República levo 20 anos!! Eu tinha 9 anos mal acabados quando chegaste a São Bento e vou ter quase 40 quando finalmente saíres de Belém. Eu não me lembro (os meus amigos mais velhos riem-se) dum tempo antes de ti Aníbal!
E não é como que não tenha o que te agradecer: a facécia da rodagem do carro à Figueira da Foz, o fim da indústria e da agricultura e da pesca trocados pelo alcatrão das autoestradas dos amigos da Mota-Engil, o “ai eu não sou político” mais espesso desde o tempo do Botas, o Poço de Boliqueime passado a Fonte e o “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, os hemofílicos cheios de SIDA da Dra. Leonor e as moscambilhas do mano Zézé, a porrada na ponte e a que levei à porta do parlamento porque não queria fazer a PGA (veio o teu ministro da polícia chamar-lhe “acção meritória” no telejornal à noite), as propinas e o porteiro do Hospital de Faro despedido por te ter tratado como um mero mortal, a pensão (recusada ao Salgueiro Maia mas) atribuída aos pides, o coqueiro, o bolo-rei e a “Mariani”, o papá gasolineiro e o genro produtor, a medonha foto retocada das presidenciais e a patranha das escutas do Palácio de Belém, o “Independente” e o “Inimigo Público” (só com garras quando o governo é PS) e os orçamentos inconstitucionais, a pensão do Banco de Portugal e as “forças de bloqueio” e o consenso e a solidariedade institucional e a solidez do grupo Espírito Santo, o Dias Loureiro (o teu meritório ministro da polícia) e o Duarte Lima e o Ferreira do Amaral e a Manuela Ferreira Leite e o Durão Barroso e o Miguel Cadilhe e o Marques Mendes e o Isaltino Morais (e o sobrinho) e o Valentim Loureiro e o Luís Filipe Menezes e o Pedrinho Passos Coelho e o Oliveira e Costa e o resto da escumalha do BPN... e a Maria, a Maria, a Maria, a Maria e o ar dela e os presépios e o estilista do Fundão e a Kátia Guerreiro a cavalo e a dor de corno dos 50 dias... obrigado Aníbal, mil vezes obrigado.
Pai do Monstro, nossa Thatcher sem tomates, nota de rodapé da História, sonso mil vezes sonso... vai ser uma alegria contida e sossegada cá em casa ver-te (mais) chupado dos ossos e (ainda mais) esclerosado na bancada dos próceres do regime nas festarolas da Assembleia, silencioso e finalmente total e absolutamente irrelevante; sempre é menos triste que ver-te a escorrer despeito pelos salões mal decorados de Belém, a hesitar na leitura dos papelinhos que sabe deus quem te enfiou nos bolsos... não te preocupes Aníbal, está quase quase a acabar.
Não te preocupes Aníbal, estes meses finais vamos fazer de conta que já foste, que já não há ninguém em Belém, vamos fingir que já não existes. Não te preocupes Aníbal, nós ajudamos-te a terminar o mandato com dignidade... ignorando-te.