A Segurança Social suspeita da existência de vinte e cinco mil “falsos recibos verdes“, e por tal entrou em contacto com a Inspecção do Trabalho. Todos nós sabemos serem muitos mais. Aliás, a senhora doutora lá do Centro de Explicações até já me mandou para casa por uns dias. “Mas então e o meu trabalho?“, digo eu, e ela que nem professora é, fez o curso de Bioquímica mas nunca tirou as pedagógicas, volta-se para mim e diz “Ó homem, mas você quer fechar-me a loja ou quê? Então e se aparece aí a Inspecção, não me quer dizer?“, pelo que hei-de voltar daqui por uns dias para o (pouco) trabalho que ainda me resta, e quanto aos recibos verdes, falsos ou verdadeiros, cá estarão à espera, senão de mim, de outros tantos na lista de espera, até porque lá diz a senhora Doutora: “trabalho há muito, não há é quem...“
Uma conhecida marca italiana decidiu entrevistar a malta na montra lá da loja no Rossio, porque é “hip“, porque é “cool“, porque “é moderno“, porque “todos temos de começar por baixo“, porque “hoje em dia é assim“, porque “lá fora“ (e há alguém que me explique o que carga de água quer dizer “lá fora“?) fazem o mesmo, quando todos quantos arrotam as postas de pescada supra citadas sabem muito bem que não é assim, com eles não foi, e com os seus filhos também não é, então porque é que tem de ser com todos os outros mais os filhos dos outros? Porventura não somos todos iguais e por acaso não fizemos um dia a Democracia? Perdoem-me a ingenuidade...
Pelo caminho a dita marca italiana viola princípios elementares de direito de acesso a emprego, susceptíveis de acção por parte da Autoridade para as Condições do Trabalho, para já não falar na humilhação, na exposição pública, na violação física e mental a que sujeita quem procura trabalho, dignidade, o futuro com as duas mãos, assim espezinhando quem procura um pouco de esperança e talvez um sorriso nos lábios.
O comissário europeu para a Economia e Sociedade Digitais dedica o Prémio “Europeu do Ano“ aos onze milhões de pessoas que vivem em Portugal" pelo êxito do país em concluir o programa da "troika". Diz o mesmo que agora há mais emprego e competitividade... talvez possamos concordar com a parte da competitividade, já o emprego... e “lá fora” há quem receba prémios por fazer isto à nossa gente...
Mau tempo no Algarve? "Deus nem sempre é amigo", diz o novo Ministro da Administração Interna. Já nem sequer vou falar da suposta separação entre Estado e Igreja, que se me seca a boca e escasseia a saliva, mas até parece que de acordo com este novo ministro não só o seu Deus é um Deus castigador, exterminador, destruidor (amar um Deus assim? Nunca!), como os algarvios alguma coisa devem ter feito para merecer tal sorte, tal destino.
Estamos bem entregues, e só agradeço a Deus não estar em Portugal...