O fim da União Europeia?

A partir de agora podemos deixar de lhe chamar União Europeia. Proponho chamarmos-lhe Sociedade Europeia, já que os estados-membro mais parecem sócios uns dos outros (uns maioritários e outros minoritários, claro)

Foto
Ralph Orlowski/Reuters

Estamos a meio da semana e os bancos na Grécia estão fechados. Os cidadãos gregos só podem levantar 60 euros por dia. É a isto que chegámos na União Europeia. Aliás, a partir de agora podemos deixar de lhe chamar União. Proponho chamarmos-lhe Sociedade Europeia, já que os estados-membros mais parecem sócios uns dos outros (uns maioritários e outros minoritários, claro).

Não acreditem naquilo que têm ouvido sobre a Grécia, especialmente se têm por hábito ler os artigos de opinião do "Observador" ou ouvir os comentários do José Gomes Ferreira na "SIC". Não existe a má fé do Governo grego que tanto se tem falado. Na verdade, o Governo até cedeu em grande parte às metas orçamentais que os credores (a antiga troika) impõem.

Simplesmente, o Governo grego quer decidir qual é o caminho para atingir essas metas. Enquanto os credores dizem que tem de ser com cortes na despesa, o Governo grego diz que a única forma é fazer isso através do aumento de impostos, nomeadamente sobre aqueles que ainda têm alguma coisa na Grécia e não sobre os mais desprotegidos.

A troika, perdão, os credores, ironicamente, agora dizem que não podem atingir essas metas com aumentos de impostos porque isso prejudica o crescimento da economia, o que parece uma brincadeira de muito mau gosto. Então, o que é que andámos a fazer nestes últimos quatro anos? Então não andámos a implementar e a apregoar a austeridade que incluía uma dose gigante de aumento de impostos? E, agora, já não pode ser porque o Governo grego entende que só assim consegue atingir as metas propostas sem despedir milhares de funcionários públicos?

As intenções da troika na Grécia são nítidas: acabar com o Governo do Syriza que os desafiou. As intenções da troika na Europa são cada vez mais claras: acabar com o estado de direito e dar início a uma nova era em que o estado social não existe para defender os mais desprotegidos. É a sobrevivência dos mais fortes.

Para justificar isto, todos os argumentos contam: sejam eles o aumento de impostos, corte na dívida ou corte na despesa. Se for preciso usar os argumentos da direita, usam-se, se for preciso usar os da esquerda usam-se também. Vale tudo!

Para esta nova ordem europeia, o que interessa é fazer todos os possíveis para aumentar a desigualdade da distribuição dos rendimentos disponíveis na sociedade. Temos que reagir enquanto podemos.

Sugerir correcção
Comentar