"Crowdfunding" não pagou dívida da Grécia mas pode ajudar a criar emprego
Depois da campanha dos 1600 milhões de euros, Thom Feeney baixa o valor e muda o objectivo: britânico quer juntar dinheiro para combater desemprego grego entre os mais novos. Grupo de portugueses tinha lançado ideia semelhante dias antes
Em apenas oito dias, mais de 108 mil pessoas de 182 países contribuíram para um "crowdfunding" que tinha como objectivo angariar os quase 1600 milhões de euros que a Grécia deveria reembolsar ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O objectivo não foi alcançado, mas a campanha de Thom Feeney foi considerada um sucesso (juntou quase dois milhões de euros) e está agora de volta com um objectivo renovado — desta feita, o britânico pede aos europeus que se juntem para angariar um milhão de euros que deverão ser doados à ONG grega Desmos e, dessa forma, contribuir para a criação de emprego para os mais jovens.
Há nove horas online, a campanha Greek Crowdfunding já conseguiu juntar mais de 28 mil euros (isto à hora de publicação do artigo: o valor não pára de crescer). "Lancei esta campanha, com financiamento flexível, para que todo o dinheiro arrecadado possa ser investido na ajuda ao povo grego. Percebo agora que deveria ter feito isto desde o início — só posso pedir desculpa.", escreveu o jovem de 29 anos.
Thom Feeney está a trabalhar com uma ONG que coordena uma grande rede de instituições de solidariedade e quer combater o desemprego, que na Grécia atinge quase metade da população jovem. "A Desmos vai ajudar-me com o meu principal objectivo de obter tantos empregos quanto possível para jovens entre os 16 e os 24 anos. Quero que estes jovens tenham esperança, ganhem ferramentas para impulsionar a economia do país e invistam de volta na Grécia. Vão trabalhar em instituições de solidariedade, tecnologia e outras causas dignas para ajudar a situação humanitária e económica no seu país."
Portugueses inspiram ideia?
Em Lisboa, um grupo de amigos havia pensado numa ideia semelhante dias antes. O projecto Bailout for Children propunha que a onda de solidariedade europeia com a Grécia fosse utilizada num objectivo "mais tangível" de ajudar crianças. Afinal, os 1.930.577 de euros angariados "podem não ser o suficiente para pagar a dívida da Grécia, mas dariam para imensa coisa", explicou ao P3 Francisco Chatimsky, um dos criadores da campanha.
Os jovens — colegas de trabalho na agência Fullsix, em Oeiras — não sabem se tiveram alguma influência na decisão do britânico, mas não podiam estar mais satisfeitos: "O objectivo da nossa campanha era este, que o movimento não se perdesse." Em apenas dois dias, os portugueses criaram um site, um vídeo, uma página de Facebook e entupiram todas as caixas de correio de Thom Feeney e da Indiegogo. "Escrevemos 'open letters', enviamos emails, mandamos uma carta à Indiegogo, tagamos em posts, pusemos a mensagem a circular... Não tivemos respostas. Mas se formos optimistas podemos pensar que tivemos alguma influência."
Na ideia da Bailout for Children, o dinheiro angariado seria doado a instituições como a Unicef ou a Caritas. E as contas do que poderia ser feito com o dinheiro que o anterior "crowdfunding" tinha juntado são esclarecedoras: 1.930.577 de euros equivalem, por exemplo, a 12.870.500 vacinas ou a 5.463.750 packs de nutrientes. Agora que "Greek Crowdfunding" está no ar, a missão dos portugueses fica cumprida: "Vamos encerrar o processo, mas a ideia é ajudar a potenciar o "'crowdfunding' actual."