Uma comunidade sustentável e ecológica — recorrendo a matérias-primas recicladas e recursos naturais e locais — e voltada para a educação das pessoas e mudança de consciências é o que Rui Vasques ambiciona construir em Portugal. O designer de 26 anos desenhou a “Eco-Village Community”, que está prestes a passar de “modelo conceptual” a realidade.
A ideia surgiu durante o mestrado em Design e Produção Industrial, no Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE), ainda em 2012. Rui, nascido no Brasil, interessou-se pelos problemas das sociedades globais actuais e decidiu pesquisar formas de integrar “o conhecimento antigo e o design e a tecnologia de hoje” em soluções sustentáveis. A tese de mestrado, intitulada “Eco-Village Community”, foi avaliada em 20 valores.
Em Coja, perto de Arganil, Rui conseguiu um terreno onde vai implementar uma mini eco-vila, sempre com o mote “fazer mais com menos”. Idealmente, a comunidade terá “espaço para campismo e vários ‘bungalows’ singulares”, num modelo de negócio ainda a definir com não mais do que vinte estruturas. Voltado para o turismo, o projecto pode vir também a acolher “um museu ao ar livre e um espaço para terapias e eventos”. Tudo construído em torno de um centro, para onde todos os membros da comunidade devem convergir, e cujo projecto deverá arrancar em 2015. “Um dos melhores barros de Portugal e da Península Ibérica é da região”, refere. As construções, de dimensão reduzida para serem testadas, serão feitas com “várias misturas” deste barro. “A reacção das pessoas tem sido boa, gostam porque se sentem inspiradas pela ligação com a natureza, a evolução e o campo.”
Há três princípios que, para Rui, são fundamentais: “a construção local, a auto-suficiência energética e a produção local de recursos”. “Claro que há locais em que não é possível ter todos os recursos”, admite, em entrevista ao P3, mas o objectivo é ser o mínimo dependente possível. Esta vila comunitária e sustentável deve “utilizar técnicas de construção ancestral, de terra ou pedra”, idealmente com recursos locais. “O 'super adobe', ou sacos de terra compactados, foi a tipologia de construção que achei mais resistente, barata e inovadora, adaptável para qualquer parte do mundo”, diz.
Em termos de produção local, Rui aposta em agricultura biológica e energias renováveis. Tudo para “começar a fechar os ciclos da matéria orgânica”: compostagem, permacultura e hidroponia são algumas das técnicas que podem ser usadas, a par da produção de biomassa, tratamento de águas locais e captação de água das chuvas.
Para conseguir concretizar o projecto, já registado, o jovem quer criar uma organização não-governamental para o desenvolvimento sustentável (ONGD) que consiga estabelecer parcerias e ser bem sucedida no desenvolvimento comunitário. Em Agosto último, juntamente com Ricardo Fernandes, da Associação Green Concentration - Ginjões de Baixo (parceira de Rui no projecto), Rui foi convidado pela organização do Festival Andanças a construir “uma casa natural” [vê vídeo ao lado]. Aproveitaram para testar o modelo e utilizar várias técnicas e materiais, “como pneus, fardos de palha, troncos de madeira e terra, garrafas e pinturas com pigmentos naturais”. No final, o orçamento da “eco-casa” não ultrapassou os 300 euros.
Artigo actualizado às 14h53 do dia 12 de Novembro de 2014.