Jovens criam “software” de ementas digitais (e a Pizza Hut já comprou a ideia)
Engenheiros dizem que a ferramenta que criaram ajuda os restaurantes a "vender mais e melhor". O SIMI já vendeu 200 licenças e fechou agora um negócio com a Pizza Hut. A internacionalização é um objectivo
Chama-se SIMI e é um projecto criado por um grupo de jovens em Abril de 2013. Contavam com poucos ingredientes: um pequeno escritório (“um cubículo”), alguns computadores e uma ideia muito concreta — criar um “software” de ementas digitais que conquistasse o mundo da restauração. Esta semana fecharam negócio com a Pizza Hut, que passa a ter os menus digitais do projecto em cinco lojas espalhadas por todo o país e pretende alargar essa rede para 24 espaços até ao fim do ano.
Miguel Pinto e João Machado abandonaram em 2011 um “emprego estável” para agarrar “algumas ideias de negócio” que tinham na manga — e para garantir o sucesso dessa passagem decidiram “não apostar todas as fichas no mesmo jogo”. O projecto SIMI — um dos três que fazem parte da empresa mãe chamada Bluwalk, que integra a Bus Events (que aluga veículos para activação de marcas) e a LeanHub (uma ferramenta de organização e colaboração de equipas ainda em fase embrionária) — foi a resposta a uma oportunidade do mercado. “Procurámos problemas que existissem e precisassem de solução e vimos que lá fora havia alguns produtos de menus digitais mas que em Portugal não havia absolutamente nada”, disse ao P3 Miguel Pinto, que com João Machado, Pedro Paixão, Tiago Amaral, Sérgio Vasconcelos e André Oliveira compõe a equipa actual do SIMI.
O objectivo do projecto criado pelos jovens engenheiros entre os 24 e os 30 anos é fazer os restaurantes “vender mais e melhor”, através de um “software” que oferece “uma data de funcionalidades”, como ver ementas com imagens apelativas e descrições da comida, aceder a sugestões de combinações (comida x com vinho y), fazer o pedido, chamar o empregado ou pedir a conta com informações de facturação.
Desde que foi oficialmente lançado, em Dezembro de 2013, o SIMI vendeu 200 licenças de "tablets" e já foram introduzidos no sistema 14 mil produtos diferentes, havendo uma média de 67 mil pedidos mensais de clientes de restaurantes que têm o SIMI feitos através da plataforma.
“Back office” configurável
O cliente com mais licenças compradas aos ex-alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto é, para já, a Pizaria Luzzo, em Lisboa, que optou por acabar definitivamente com os menus em papel e tem 90 tablets no restaurante. Em Viana do Castelo, a cadeia de restauração La Bomba tem tablets de 22 polegadas embutidos na parede. Para cada cliente, pode haver uma solução personalizada: “Há restaurantes que só querem a experiência do 'tablet' mas não compram a possibilidade de fazer pedidos ou pedir conta, por exemplo”, explica Pedro Paixão, engenheiro informático, acrescentando que o preço é, independentemente destas variáveis, de 12 euros mensais por "tablet".
Com um “backoffice” completamente configurável, o SIMI permite ao restaurante fazer o “upload” de qualquer imagem (e como “as pessoas comem também com os olhos”, Miguel considera esta uma “grande vantagem competitiva”) e escrever qualquer descrição (“convencer as pessoas a aventurarem-se por novos sabores ou decifrar nomes pomposos pode ficar mais fácil”).
O menu digital — disponível em português, inglês e espanhol — potencia uma “diferenciação no serviço” e o “apetecível marketing boca-a-boca”, acreditam os jovens engenheiros, que durante seis meses participaram com mais 16 finalistas na terceira edição do Programa de Aceleração de Startups do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC). Exemplo prático: “Se eu for almoçar a um restaurante e voltar depois ao trabalho não me lembro de partilhar onde fui. Mas se for a um restaurante e for servido por um 'tablet' isso será diferente”, diz Pedro Paixão, que representou a equipa do SIMI no auditório da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), durante o Startup Pitch Day da UPTEC no início do mês de Outubro, que acabou por eleger como vencedora a empresa de serviços de teste de "software" Crowbar.
O foco do SIMI não é a optimização do trabalho dos restaurantes, mas essa vantagem paralela também é real, garantem: “A velocidade dos pedidos é diferente, a organização é forçada a alterar-se”, diz Miguel Pinto, engenheiro industrial. Consequências: os clientes ficam menos tempo nas mesas e mais satisfeitos, logo há menos filas de espera e mais refeições vendidas no fim do mês.
Com o negócio com a Pizza Hut — que começa nesta experiência com três tablets em cada um dos cinco restaurantes e quer ter até ao fim do ano 24 estabelecimentos digitais —, o SIMI fechou “a primeira parceira com uma multinacional” — acontecimento que os jovens engenheiros esperam ver replicado em 2015, já nomeado como o ano da “consolidação” e também do “início da exportação”, a partir do mercado do Reino Unido. “O mercado tem uma sensibilidade grande para este tipo de produtos e um índice de aceitação de tecnologias muito elevado”, considera Pedro Paixão.
O produto tem por detrás um “plano gigante de desenvolvimento” e é também por isso que os jovens engenheiros dizem não ter medo da concorrência. “Seremos sempre ‘first movers’. Se entretanto surgir alguém a fazer menus digitais em Portugal nós já estamos à frente”, diz Pedro Paixão. E Miguel Pinto acrescenta um argumento para responder a quem acha o produto pouco inovador: “É verdade que não fomos as primeiras pessoas no mundo a fazer menus digitais, mas em Portugal fomos os primeiros a conseguir produzir o produto e a divulgar o produto ao ponto de convencer uma grande cadeia a comprá-lo.”