São "nerds dos cogumelos" e criaram protótipo para produção optimizada
Produzir quatro vezes mais cogumelos gastando menos 20%. Óscar Pinto e Simão Morgado vão apresentar em breve os primeiros produtos de um projecto que quer, no futuro, conquistar os mercados gourmet e medicinal, que juntos representam um negócio anual de três mil milhões de euros
Confessam-se "nerds dos cogumelos" e foi o fascínio (e o "apetite insaciável") por este fungo que os trouxe até aqui. Óscar Pinto e Simão Morgado, micro-biólogos de 31 anos, estão a desenvolver um projecto que quer aliciar os produtores de cogumelos com uma pergunta: e se fosse possível aumentar a produção até quatro vezes diminuindo os custos até 20%? O Melus deve acabar o primeiro protótipo de um dos seus produtos já em Novembro e com ele começar a cumprir um desejo antigo: "Democratizar a produção de cogumelos e torná-la mais acessível."
A ideia de "acrescentar valor ao cogumelo" é antiga. Óscar lembra-se de ser ainda um "amador" no assunto — antes de entrar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica — e já se interessar pela matéria. Quando sentiu que o número de projectos e a curiosidade à volta deste alimento (com propriedades medicinais) estava a aumentar, decidiu que era altura de fazer alguma coisa. Com o colega de curso Simão Morgado (e outro parceiro, que entretanto abandonou o projecto) começou a desenhar o Melus: "Queremos desenvolver o mercado português não só em termos de consumo mas também em termos de produção", explicou Óscar Pinto.
Oportunidade de negócio: há uma "falta de conhecimento técnico" e "ausência de programas de melhoramento genético de cogumelos em Portugal", identificaram os dois jovens, que durante seis meses participaram com mais 16 finalistas na terceira edição do Programa de Aceleração de Startups do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).
"Os métodos de produção que os novos produtores utilizam são tradicionais, com pouca produtividade quando comparados com métodos mais modernos", explicaram ao P3. Exemplo prático: "O que está agora em voga são os cogumelos shiitake ("Lentinula edodes"). Como são, normalmente, produzidos em tronco, têm uma eficiência biológica [capacidade que o fungo tem de transformar a matéria em cogumelo] de 20%. O que estamos a tentar é que essa eficiência seja de 80%."
Solução amiga do ambiente
Já em Novembro, na Feira Internacional de Lisboa, Óscar e Simão contam apresentar o primeiro protótipo de um dos produtos que vão disponibilizar: um fardo de produção de cogumelos de 20 kg, que é uma espécie de "tronco artificial de produção". Esta solução — que está agora em fase de teste com dois produtores e parcerias com organizações produtoras e associações de desenvolvimento rural — não só é mais produtiva como é "melhor em termos ambientais": "Enquanto o cultivo em troncos requer o abate de árvores, o nosso produto pode usar resíduos agrícolas e florestais para produzir ainda mais cogumelos do que o tronco originalmente produzia."
Pequena aula de Biologia: "Os cogumelos estão dentro do reino dos fungos, dentro desse reino há diferentes espécies que têm diferentes estirpes", explica Óscar Pinto para acrescentar: "Nós tentamos potenciar a genética dessas estirpes através da formulação do substracto onde elas crescem. Por outro lado temos o intuito de desenvolver em termos laboratoriais estirpes mais produtivas ou que tenham uma característica x, y ou z."
Os micro-biólogos querem fazer dos produtores os "clientes principais" ("não estamos a pensar, pelo menos para já, vender o cogumelo em si"). "O que nós vendemos são meios de produção e estirpes optimizadas", diz Simão Morgado, acrescentando que a consultoria, formação e apoio à produção e melhoria do desempenho fazem também parte dos planos. As soluções que a Melus vai apresentar vão permitir "entrar nos mercados do gourmet e medicinal", ramo que "representa neste momento um negócio anual de três mil milhões de euros", revelaram esta semana no auditório da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), durante o Startup Pitch Day da UPTEC, que acabou por eleger como vencedora a empresa de serviços de teste de "software" Crowbar.