Excesso de protagonismo na arbitragem

Nos últimos tempos temos vindo a assistir a uma alteração, para pior, do carácter exemplar que já foi regra nos árbitros

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O código de ética e o espírito que envolve todos aqueles que gostam de râguebi leva a que a abordagem ao tema "arbitragem" se torne difícil de discutir. Essencialmente porque aprendemos a lutar dentro de campo, aceitando as circunstâncias do jogo, não as discutindo nem nos servindo delas como desculpa, mas sim tendo a capacidade de ultrapassar as mesmas. A arbitragem de uma partida faz parte dessas circunstâncias, com o realce de ser um ponto nobre do nosso jogo.

No presente artigo não vou discutir boas ou más arbitragens no sentido técnico. Haverá boas e más, sendo que, aqui, teremos de dar sempre o beneficio ao árbitro que tem de decidir, no momento e sob a égide de inúmeras e complicadas regras (sobre as suas complicação ler as declarações interessantes do treinador dos All Blacks aqui).

Mas sem prejuízo do agora referido, penso que se pode e deve discutir as arbitragens sob o ponto de vista dos princípios e carácter dos árbitros. O árbitro é soberano. A ele todos lhe devem respeito e a ele todos devem acatar as decisões. Aliás, pelo carácter (elevado) dos árbitros que foram fazendo parte da história do râguebi, o princípio de respeito atrás referido foi algo que, facilmente, foi vindo a ser cumprido ao longo dos anos.

Contudo, nos últimos tempos, temos vindo a reparar numa alteração (muito negativa no meu ponto de vista) desse carácter exemplar dos árbitros: mudam de nacionalidade; usam penteados de estrelas; passam a vida em entrevistas; intervêm de forma efusiva nos encontros do que dirigem; procuram ter uma marca no jogo. São vaidosos. São arrogantes a falar com os jogadores.

E a sobranceria (confundem com soberania) dos árbitros é tal que, nos últimos jogos, anularam dois ensaios limpos porque, pura e simplesmente, consideraram que nem valia a pena recorrer àquilo que de melhor tem sido introduzido no râguebi e que tanto e bem o tem distinguido do futebol: a tecnologia.

Humildade é, como sempre digo, a melhor e mais importante arma do râguebi. Estamos numa época em que essa arma está a faltar a muitos árbitros. Árbitros esses que estão a contribuir para a destruição de uma imagem imaculada que os seus antecessores foram construindo ao longo dos tempos.

E com o protagonismo que lhes dão, corremos o risco de influenciarem (mal) todos os árbitros desse mundo fora - aquela mania de marcar adiantados por tudo e por nada, esquecendo-se da natural deslocação por força do movimento dos jogadores. Trata-se de um alerta que a IRB deveria, rapidamente, tentar compreender e solucionar. Voltando aos básicos, fazendo renovar a ideia de que o árbitro do râguebi deverá agir em função do espectáculo e dos princípios da modalidade. Mais, muito mais, do que andarem para ali a aplicar regras de uma forma rígida e incompreensível para quem gosta de um bom jogo de râguebi! Pelo râguebi!

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