O Portugal-Espanha veio alertar-nos, mais uma vez, para o facto de não podermos desaproveitar oportunidades que nos são dadas ou conquistados. Fizemos, para mim, um dos melhores jogos dos últimos tempos. Foi, sem dúvida, um dos jogos mais atractivos e emocionantes.
Jogámos, circulámos a bola, tomámos iniciativas, alargámos o perímetro do jogo, entusiasmámos o público. Mas o Pipas e o Aguilar mereciam outro resultado.
No entanto, por (muito) mérito dos espanhóis, não conseguimos a vitória para a qual trabalhámos do princípio ao fim. Olhando para trás, foi no ano passado que foram desperdiçadas mais oportunidades: o jogo na Geórgia; a derrota em casa com Rússia (dominámos do principio ao fim); o empate concedido em Santiago de Compostela. Se tivéssemos aproveitado essas oportunidades, muito provavelmente, o jogo com a Espanha teria o gosto especial de estarmos a festejar o apuramento para um Mundial.
Mas perdidas que foram essas oportunidades, jogávamos contra o nosso histórico rival e adversário directo no ranking da IRB (eles 21.º e nós 22.º). Lutámos e jogámos para merecer inverter a posição no ranking. Lutámos pelo 4.º lugar nas Seis Nações B. Tivemos momentos de óptimo râguebi. Pequenos erros custaram-nos caro! Muito…
Sabíamos que os espanhóis são individualmente e nos seus três-quartos desiquilibradores e perigosos. Em jogos passados, sofremos desse veneno. Sabíamos que os espanhóis seriam perigosos no “maul”. A tradição ensinou-nos isso. Desconcentrações momentâneas foram suficientes para que os espanhóis, com eficácia, aplicassem a sua receita.
Temos de retirar, rapidamente, essas desconcentrações do nosso jogo. Para mim, mais do que tácticas, técnicas ou sistema de jogo, este aspecto psicológico será a parte mais importante na qual todos deverão trabalhar, com rigor, durante os próximos tempos.
Um novo ciclo começará em breve. A qualidade individual e colectiva da equipa (com jogadores do campeonato nacional e em França) está lá. Se tivermos a capacidade de não desmobilizar e se não abandonarmos o barco nos momentos difíceis que se avizinham, Bardy, Bettencourt e companhia (era bom que o enorme Vasco Uva seguirá jogasse mais quatro anos) poder-nos-ão dar um futuro próximo de sucesso.
A receita é simples, mas não é fácil. A capacidade de mobilização é o trabalho mais difícil; convencer os jogadores que jogam no estrangeiro e os seus dirigentes é complicado; alentar os jogadores nacionais para, de uma forma amadora, se dedicarem como uns profissionais não é pêra doce. Temos que nos entregar de corpo e alma. Envolver jogadores-chave. Entusiasmar adeptos. Mostrar a quem nos apoia que, acima de tudo, o râguebi continua a ser uma escola de vida.
E, jogo a jogo, iremos lá chegar!